Frade quer dar volta ao mundo a pé para conscientizar sobre a Aids
Ele caminha há mais de 500 dias para cumprir o objetivo. Ao longo da jornada vai conversando com as pessoas que encontra sobre a doença que vitimou sua irmã
Por: Mariana Lima
Há mais de 500 dias o frade capuchinho Marcelo Monti, 41, caminha para dar a volta ao mundo a pé. O objetivo da empreitada é conscientizar as pessoas que encontra sobre a Aids. A doença causada pelo vírus HIV foi responsável pela morte de sua irmã.
Em sua jornada, batizada de Caminho de Aline, em homenagem à irmã, Monti aborda questões como o preconceito e os estigmas que envolvem a doença.
O frade iniciou a viagem no dia 28 de agosto de 2018, em Porto Alegre (RS). Em dezembro de 2019, já tinha percorrido 8.781 km. Monti já atravessou o Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Equador.
Ele vive como um peregrino e forasteiro, definições que compartilha com migrantes venezuelanos que encontra pelo caminho. Em sua jornada, Monti caminha empurrando um carrinho onde leva um colchão inflável, roupas e fogareiro.
Marcelo dividiu uma infância difícil com a irmã. Desde os 8 anos, ele vendia bolos na rua, época que vê como fundamental para o desenvolvimento de sua capacidade de se comunicar com desconhecidos.
Aline, sua irmã, sofreu com a violência familiar e sexual, que deixou marcas profundas nela. Monti relata que ela via a doença como resultado de más ações, e evitava falar sobre.
A família dos irmãos costumava migrar pelo interior do Rio Grande do Sul em uma tentativa de mudar de vida, algo que nunca se concretizou. Quando ele tinha 15 anos, a família se dividiu.
Enquanto a mãe foi viver com o padastro dele, e a irmã foi viver com uma madrinha, Marcelo se viu sozinho em Porto Alegre, contando com a ajuda de vizinhos para viver. Foi uma senhora, que era prostituta e lhe ajudava a conseguir comida, que acabou o direcionado para se tornar padre.
Monti se encontrou entre os capuchinhos, ordem fundada por São Francisco. Hoje, vê em sua caminhada uma proposta de vida.
Em seu caminho encontra pessoas com o vírus que contam suas histórias, e as dificuldades de viver com o estigma da doença.
Marcelo sabe a importância de conversar sobre a Aids. O estigma era tão forte em sua irmã que ela acabou não aderindo ao tratamento, achando que a doença era culpa dela, e uma forma de punição.
Fonte: Folha de S. Paulo
Marcelo Monti
02/03/2020 @ 22:03
O texto foi escrito a partir do texto escrito por Paula Sperbe da Folha de São Paulo e como a pessoa que o escreveu não falou diretamente comigo, algumas coisas foram modificadas. Por exemplo: minha irmã não disse ou pensava que o HIV era resultado de más ações e não tenho condições para afirmar que o fato de não aderir ao tratamento era para ela uma autopunição.
A jornalista Paula Sperbe teve a sensibilidade e o respeito de falar comigo por um longo tempo para poder escrever esse texto.
Estou sempre disposto a dialogar e contar essa história a todas e todos jornalistas que me contactam, lamento profundamente que Mariana Lima não tenha feito o mesmo.
Redação
03/03/2020 @ 10:30
Olá, Marcelo.
Obrigada por entrar em contato conosco.
Nós te enviaremos um e-mail para alguns esclarecimentos.
Lamentamos qualquer equívoco.
Um abraço.