Covid-19: Manaus enfrenta alta no número de enterros e subnotificação
Enterros quadruplicaram em relação ao normal da cidade de Manaus, pessoas começaram a ser enterradas em valas comuns e muitas estão morrendo em casa
Por: Mariana Lima
Esta semana, a cidade de Manuas, capital do estado do Amazonas, ganhou destaque nos noticiários nacionais e internacionais. O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), chorou ao falar sobre o trabalho dos sepultadores na cidade e informou que a situação não é mais de emergência e sim de calamidade, em entrevista à Folha de S. Paulo.
A situação na cidade mais populosa do Amazonas – com 2. 182.763 habitantes, de acordo com IBGE -, conforme informou o prefeito, pode ser exemplificada com as recentes imagens de diversos caixões sendo enterrados em valas comuns. Além disso, 91% de seus leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) estão ocupados. A cidade, aliás, é a única do estado com leitos de UTI.
De acordo com a prefeitura de Manaus, as valas comuns, definidas pelo município como “trincheiras”, preservam a identidade dos corpos e os laços familiares. No entanto, as imagens apontam para uma conta que não fecha e que vem preocupando autoridades de saúde.
Só na última quarta-feira (22/04), Manuas registrou 120 sepultamentos, o quádruplo da média diária da cidade, que era de 30 enterros antes da pandemia do novo coronavírus.
Segundo os dados oficiais, apenas 7 desses mortos eram vítimas da Covid-19 e três eram casos suspeitos.
A prefeitura apontou que 30 enterros nesse dia ocorreram por causas de morte desconhecidas ou indeterminadas, e os outros por síndromes ou complicações respiratórias.
Considerando apenas as 7 mortes oficiais por Covid-19, mais as 30 da média pré-pandemia, sobrariam mais de 80 cadáveres que estão fora do padrão registrado na cidade.
A subnotificação se agrava cada vez mais em Manaus e em outras capitais do país desde o fim de março, quando o número de mortos pela doença começou a aumentar drasticamente.
De acordo com o governo do Estado, Manaus registrou 2.286 dos 2.888 casos confirmados no Amazonas, representando 79,1% do total. Até o dia 24 de abril, a cidade tinha registrado 193 óbitos confirmados para a Covid-19.
A falta de uma estrutura adequada de saúde no estado e a intensidade da pandemia no Brasil complicam o cenário da cidade, como o aumento de pessoas morrendo em casa, sem o auxílio médico ou aparato hospitalar.
De acordo com dados oficiais, dos 120 mortos registrados no dia 22 de abril, 23 foram de óbitos em domicílio. O número é o equivalente a aproximadamente 20% das mortes da cidade.
No dia anterior, a média de óbitos domésticos foi pior, segundo a prefeitura. Ao todo, foram 136 sepultamentos, dos quais 42 morreram em casa (30%).
Mesmo com a subnotificação dos casos, o estado do Amazonas tem a pior taxa de mortalidade do país, com 45 óbitos por milhão de habitantes. Ocupam o segundo e terceiro lugar os estados de Pernambuco e Rio de Janeiro, com 24 mortes para cada milhão.
Além disso, Manaus tem a pior taxa de incidência do novo coronavírus do país, com 521 casos por milhão de habitantes, aproximadamente 2,7 vezes a média nacional, de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde.
O Ministério da Saúde informou que cerca de 8 mil testes laboratoriais para Covid-19 foram enviados ao Amazonas. O total do país era de 476.272 testes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que testes em massa estão entre as principais medidas de combate à pandemia.
Fontes: BBC News Brasil | Folha de S. Paulo