Contra o coronavírus, médica leva pacientes com doença rara para casa
Apesar de a cidade de Taiobeiras, no norte de Minas Gerais, não ter casos confirmados de Covid-19, a médica, que atende as crianças há 7 anos, buscou uma forma de evitar que elas precisassem ir ao hospital toda semana
Por: Mariana Lima
Visando proteger dois jovens portadores de uma doença genética rara de contraírem o novo coronavírus no hospital, uma pediatra tomou a decisão de levá-los para a casa dela para seguirem o tratamento em sua sala de estar. A cidade de Taiobeiras, no norte de Minas Gerais, ainda não tem casos confirmados de Covid-19.
Os jovens Talisson Gonçalves, de 8 anos, e Vanessa Gomes da Silva, de 15, são portadores da mucopolissacaridose (MPSVI) e recebem, uma vez por semana, uma medicação através de uma bomba de infusão, fundamental para controlar o avanço da doença.
O processo da medicação dura cinco horas e tem que ser feito em um ambiente hospitalar pelos riscos de efeitos colateiras, como reação alérgica ou uma parada cardíaca.
Os dois jovens, que não são parentes, seguiam uma rotina até o fim de março em que saíam da cidade em que residem, Berizal, e seguiam durante uma hora, por cerda de 68 km até o Hospital Santo Antonio, em Taiobeiras, em uma perua cedida pela prefeitura.
A adolescente Vanessa tinha uma irmã gêmea que faleceu por complicações da mesma doença aos cinco anos de idade. Ela tem graves deformações ósseas no pé que a impedem de andar. Apesar da idade, mede um metro de altura, assim como Talisson.
Na sala do pronto-socorro, a médica pediatra Marcia Novaes, 55, acompanhava os jovens – os únicos pacientes com essa doença rara – enquanto eles recebiam a medicação na veia. Marcia os acompanha há 7 anos, desde que chegou ao município, após deixar Santo André (SP).
Apesar de ainda não haver casos confirmados de Covid-19 lá, o novo coronavírus trouxe mudanças nos fluxos do hospital público onde vanessa e Talisson realizam o tratamento, o único da cidade de Taiobeiras. Eles teriam que deixar de receber a medicação no pronto-socorro, onde ficavam sozinhos, sendo um ambiente mais protegido, e teriam que atravessar o hospital e ficar no setor de internação com outras crianças doentes.
Marcia ficou com medo de os jovens serem infectados pelo novo coronavírus e não sobreviverem. Essa situação a motivou a querer levá-los para a sua casa, a 100 metros do hospital, o que tornaria mais fácil uma remoção em caso de emergência.
A médica pediatra mora sozinha, e para levar os pacientes para casa precisou de uma autorização da direção do hospital. Além das bombas de infusão, que chegam a custar R$ 30 mil semanalmente sendo pagas pelo SUS, ela carrega outros remédios para serem utilizados em caso de urgência e um balão de oxigênio. Um enfermeiro a auxilia no monitoramento dos jovens.
Fonte: Folha de S. Paulo