Mães da Sé: a busca por crianças desaparecidas
Onde estão as mais de 40 mil crianças que desaparecem todos os anos no Brasil?
Por Maria Fernanda Scala
Na busca por uma resposta, homens e mulheres ocupam as escadarias da Catedral da Sé, na capital de São Paulo, e seguram cartazes com fotos de pessoas desaparecidas. A esperança é a de reencontrar os entes queridos das imagens e acabar com a dor, que dura meses ou até anos.
O choro e a tristeza comovem todos que acompanham mais um ato de protesto da ONG Mães da Sé. Fundada por Ivanise Esperidião, ainda presidente da associação, a entidade já encontrou mais de três mil crianças. Nenhuma delas era a filha de Ivanise, Fabiana, desaparecida há mais de 18 anos. “Eles não querem encontrar nossos filhos”, protesta Ivanise.
A presidente da ONG refere-se ao governo, que pouco ou nada fez para ajudar na busca dos desaparecidos. O cadastro nacional de crianças e adolescentes desaparecidos completa cinco anos desatualizado. No cadastro, existe apenas o registro de 400 pessoas. No país, somem 40 mil crianças todos os anos.
A polícia é outra queixa de quem procura por uma pessoa desaparecida. “O delegado não queria fazer boletim de ocorrência, disse que se o Jhonny estava com os avós quando sumiu não é considerado desaparecido”, fala aos prantos Rosa Maria Dias Flores, avó de Jhonny Dias Flores, que desapareceu quando visitava os avós maternos. Rosa tem a guarda de Jhonny e não tem notícias do neto desde janeiro deste ano.
“Várias vezes fui sozinha investigar o desaparecimento da minha filha”, desabafa Zeni Souza Carmo, mãe de Stephany de Souza Lopes, que desapareceu há 12 anos, quando tinha apenas seis anos de idade. Zeni diz sentir que sua filha está viva e tem a esperança de um dia reencontrá-la.
Ao seu lado, outra mãe desesperada à procura do seu filho: “Já procurei em todos os lugares”, diz Marli Vieira Carolino. Seu filho Anderson Vieira Rodrigues, com deficiência mental, está desaparecido desde 2003.
De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Secretaria da Presidência da República, com base nos dados recebidos do disque 100 – serviço que recebe denúncias de violações de direitos humanos de todo Brasil –, o número de denúncias de tráfico de crianças e adolescentes no Brasil aumentou 86% entre 2012 e 2013.
As crianças e adolescentes desparecidos no Brasil podem ser vítimas de adoção ilegal, exploração sexual infantil e trabalho escravo doméstico, em campos, minas e plantações.
Marli, Zeni, Ivanise, Rosa e milhares de mães continuam segurando seus cartazes. A esperança é tudo que elas têm para o encontro com seus filhos.
Entre no site da ONG Mães da Sé http://www.maesdase.org.br/ e verifique as fotos das crianças desaparecidas.
Se você reconheceu alguma criança no site ou tem informações sobre as crianças mostradas na matéria, ligue para o 190 ou para as Mães da Sé (tel.: 3337- 3331).