Leprosários: internação à força e 40 mil bebês tirados dos pais
O Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes, também conhecido como colônia-asilo de Pirapitingui, na cidade de Itu (SP), no passado foi um dos maiores leprosários do Brasil. Inaugurado em 1937, chegou a abrigar 4 mil pacientes portadores de hanseníase (antigamente conhecida como lepra).
Em 1949, o isolamento forçado dos hansenianos em leprosários virou lei federal, que vigorou até 1986.
A legislação permitia, inclusive, separar os filhos dos pacientes. Ainda bebês, eram enviados em cestos a educandários e preventórios, lugares semelhantes a creches e voltados para crianças consideradas órfãs, mesmo tendo pais vivos.
A hanseníase é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, que lesiona os nervos periféricos e diminui a sensibilidade da pele. A doença hoje tem cura, porém exige tratamento prolongado para não desencadear problemas ao paciente ou a transmissão da bactéria para indivíduos de convívio próximo. O SUS fornece a medicação necessária para recuperação dos portadores da hanseníase. A mudança no tratamento do hanseniano, na forma ambulatorial empregada até hoje, somente se daria no Brasil na década de 1980, quando passou a empregar a poliquimioterapia, que consiste no uso combinatório de três medicamentos, a depender do caso.
Entre 1920 e 1950, foram inaugurados quarenta asilos-colônias (leprosários) em todo o Brasil, sendo 80% deles criados no governo de Getúlio Vargas.
A doença na época era tratada como “polícia médica”. Havia inspetores de saúde que detectavam possíveis portadores da doença e os encaminhava – às vezes à força – para os leprosários.
Foi o caso de Nivaldo Mercurio, na década de 40. Ele foi internado à força no Asylo Colônia Aymorés, localizado em Bauru (SP). Em entrevista à BBC Brasil, ele contou que, anos antes, seus pais e irmãos já haviam sido mandados para diferentes leprosários. Além de se separar da família, Nivaldo, hoje com 90 anos, lembra que o Departamento de Profilaxia mandou queimar a casa em que viviam com todos os pertences.
A experiência de ter vivido em um leprosário foi tão traumática que, no dia em que recebeu alta, Nivaldo ficou mudo. A mudez durou 31 anos.
Outra experiência traumática foi vivida por Helena Bueno Gomes. Ela nasceu em 1961, no leprosário de Pirapitingui, e no mesmo dia foi retirada dos braços de sua mãe. Helena nunca mais viu os pais.
“Muitos anos depois, percebi que nasci em uma cadeia dentro do Hospital, para onde eram mandados os pacientes que não obedeciam às ordens das autoridades na colônia”, explica Helena para a BBC Brasil.
Helena e sua irmã, a única parente que conhece, foram enviadas, no dia do nascimento, a diferentes educandários em São Paulo e, depois, a Carapicuíba, cidade da região metropolitana da capital paulista.
Helena conta que sofreu muito, passou por várias casas de família, sempre trabalhando como empregada doméstica na infância. Até que um dia uma vizinha, sensibilizada com seu sofrimento, ajudou Helena a fugir da casa em que era mantida como empregada. A vizinha sempre foi ameaçada pelo ato e Helena só conseguiu parar de ser perseguida aos 18 anos. Maior de idade, Helena começou a pesquisar o seu passado. Em 2011, conheceu o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, o Morhan, e se deu conta de que fazia parte dos 40 mil bebês que foram separados de pacientes, segundo dados estimados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
O Morhan é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 1981. Suas atividades são voltadas para a eliminação da hanseníase, por meio de atividades de conscientização e foco na construção de políticas públicas eficazes para a população. O movimento também luta pela garantia e respeito aos direitos humanos das pessoas atingidas pela hanseníase e seus familiares.
O Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes funciona até hoje e atualmente é mantido com recursos do Tesouro do Estado de São Paulo, gerenciado pela Secretaria de Saúde do Estado.
Hamilton Bomfim Silva
02/02/2018 @ 23:00
Ainda batem panela.
‘A hanseníase salvou minha vida’: por causa da doença, consegui fugir de um pai abusador – Curtis Ryals Reports
13/12/2019 @ 03:09
[…] sofrem com a estigmatização e o preconceito. Até 1986, por exemplo, o Brasil aprisionava os infectados em ‘leprosários‘ para separá-los do resto da […]
Agência Abraço – Comunicação Comunitária » ‘A hanseníase salvou minha vida’: por causa da doença, consegui fugir de um pai abusador
13/12/2019 @ 11:42
[…] hoje os infectados sofrem com a estigmatização e o preconceito. Até 1986, por exemplo, o Brasil aprisionava os infectados em ‘leprosários‘ para separá-los do resto da população e ‘evitar’ […]
‘A hanseníase salvou minha vida’: por causa da doença, consegui fugir de um pai abusador | Ponto E
13/12/2019 @ 14:01
[…] hoje os infectados sofrem com a estigmatização e o preconceito. Até 1986, por exemplo, o Brasil aprisionava os infectados em ‘leprosários‘ para separá-los do resto da população e ‘evitar’ […]
‘A hanseníase salvou minha vida’: por causa da doença, consegui fugir de um pai abusador – Anapolino Online
13/12/2019 @ 18:13
[…] hoje os infectados sofrem com a estigmatização e o preconceito. Até 1986, por exemplo, o Brasil aprisionava os infectados em ‘leprosários‘ para separá-los do resto da população e ‘evitar’ […]
Ana
14/04/2021 @ 01:10
Gostaria muito de conhecer… é possível?