Movimento nascido em São Paulo luta pelos direitos da população de rua
Últimos dados oficiais apontam 16 mil pessoas em situação de rua na capital paulista
Por: Mariana Lima
“Você só é cidadão quando está incluso”, diz Darcy Costa, 48, coordenador estadual do Movimento Nacional dos Moradores de Rua em São Paulo (MNMR-SP), localizado sob o Viaduto Pedroso, que corta a Avenida 23 de maio e o Corredor Norte-Sul.
O movimento surgiu em 2005, na capital paulista, após o assassinato de sete pessoas em situação de rua na Praça da Sé, região central da cidade. Nenhum suspeito foi preso ou indiciado pelo crime. Desde então, o movimento cresceu e hoje atua em 18 estados brasileiros.
Darcy Costa é ex-morador de rua e desde 2013 atua como coordenador estadual do MNMR-SP. Para ele, o movimento trouxe visibilidade para essa população. “Temos visibilidade, mas o problema social é tão cruel que as pessoas não se importam. Veem um caso de violência e filmam, mas não ajudam”.
O objetivo do movimento é lutar por uma ampliação dos direitos das pessoas em situação de rua. Segundo Costa, essas pessoas sabem que têm direitos, mas não sabem como lutar por eles. “Eles estão mais preocupados em conseguir o que comer, saber onde vão dormir, onde vão tomar banho”.
Luís Fernando Firmino, 31, é dependente químico e está em situação de rua há cinco anos, e encontrou no movimento o suporte que precisava. “Se eu ficar aqui no movimento, eu fico interagindo. Então não tem espaço para usar a droga”. Firmino espera ter uma vida normal no futuro, com emprego e uma família.
Sem auxílio financeiro da Prefeitura, o movimento conta com parcerias com universidades e outros movimentos e projetos, praticando uma autogestão.
Em 2016, o movimento desenvolveu o projeto CISARTE – Centro de Inclusão pela Arte, Cultura e Educação, que oferece oficinas, palestras, aulas de economia solidária e curso de informática. O espaço também mantém uma biblioteca e uma sala para exibição de filmes.
“O jogo capitalista é assim. Quando você atinge a miséria, você está fora e passa a ser uma despesa que a sociedade não quer.”
Darcy Costa critica a atuação de alguns projetos e equipamentos públicos que perpetuam a realidade das ruas, ao invés de oferecer algo novo para as pessoas atendidas, como cursos. “Os equipamentos e serviços não podem ser uma extensão da rua. Como a pessoa vai perceber que ela pode mudar a sua realidade, sem ver nada fora dela?”, questiona.
José Reginaldo da Silva, 64, saiu de casa após ficar desempregado, há 12 anos, e fala das incertezas de viver na rua. “É muito difícil viver na rua. É muita violência. Você tem que dormir com um olho aberto e outro fechado. Vou com minha barraca, mas nem tenho certeza de onde vou ficar”.
Além dos desafios financeiros, as iniciativas voltadas para a população de rua enfrentam problemas na hora de abrir seus espaços por preconceito dos moradores locais, que muitas vezes acham que um lugar que reúna essas pessoas, mesmo que para ajudá-las, irá desvalorizar a região. “Vão criando estratégias para tirar aquela população de lá. O jogo capitalista é assim. Quando você atinge a miséria, você está fora e passa a ser uma despesa que a sociedade não quer”, conta Darcy.
Edvaldo Gonçalves, 50, também é ex-morador de rua e hoje coordena o movimento ao lado de Darcy. Para ele, a sociedade não tem noção do funcionamento das relações entre pessoas em situação de rua. “A rua é dividida em classes. Tem subgrupos e preconceitos. A população de rua não é heterogênea como a sociedade pensa”.
O que os dados dizem sobre essa população?
De acordo com o último Censo da População em Situação de Rua, realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em São Paulo, em 2015 havia 15.905 pessoas em situação de rua na cidade. Desse total, 8.570 dormiam em abrigos e 7.335 dormiam nas ruas. A região administrada pela Subprefeitura da Sé era a que tinha o maior número de pessoas pernoitando nas ruas: 3.864, o equivalente a 52,7% do total.
Com a crise econômica que afetou o país nos últimos anos, estimativas já apontam que a capital paulista já deve ter entre 20 mil e 25 mil pessoas em situação de rua.
Entre os motivos que levam as pessoas a viverem na rua estão o desemprego, brigas com familiares, o uso abusivo de álcool e drogas, e um histórico de pobreza. Essa população também é acometida por problemas de saúde como hipertensão, problemas psiquiátricos, HIV/ AIDS e cegueira.
Regina Paixão
30/04/2019 @ 18:27
Muito boa a entrevista sobre população de rua é a divulgação do movimento.
Um salve ao Darcy e Edvaldo.
Regina Paixão
Fórum de Assistência Social SP/ Oficial
Cecilia
08/05/2019 @ 14:34
Excelente matéria. Pessoas como Darcy fazem toda a diferença. Deus abençoe esse trabalho
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Fabiana Paiva
28/03/2023 @ 07:19
Maravilhosa matéria.
Espero um dia ter a chance de assistir esse cara relatando suas histórias e conquistas pessoalmente.
Parabéns a todos envolvidos nesse Movimento.