Mulher no Brasil: a luta pela igualdade de gênero e raça
Cerca de 4,5 mil brasileiras ainda morrem por ano simplesmente por serem mulheres
A desigualdade de gênero é um problema antigo na sociedade e até hoje há quem acredite que as mulheres são inferiores aos homens e que seu único papel na sociedade é o de cuidar da casa e dos filhos. Uma pesquisa divulgada agora em março pela Ipsos mostrou que, em média, 18% das pessoas no mundo acreditam na inferioridade feminina.
Para mudar esse tipo de visão, surgiu o feminismo, que defende que as mulheres são iguais aos homens, capazes de exercer as mesmas funções que eles, assim como eles são capazes de exercer as mesmas funções que elas, como os trabalhos domésticos, por exemplo.
O erro mais comum é classificar o feminismo como uma ação que tem o ideal de que as mulheres são melhores que os homens. Os movimentos feministas falam de igualdade e não de superioridade de um ou de outro gênero.
“Essa visão social dos papéis estruturantes do feminino e do masculino traz algo fundamental para a reação negativa das pessoas, principalmente dos homens. É um privilégio ser homem no Brasil e a maioria deles reage de forma não amigável ao feminismo”, disse Jacira Mello, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão.
Diferença salarial
Na busca pelo empoderamento e independência da mulher, a percepção da desigualdade começou a se tornar mais presente na vida da população. A cada geração, o conceito de ‘mulher submissa’ do século passado está se esvaindo, o que permite que as mulheres lutem e conquistem seu espaço na sociedade.
“A percepção da desigualdade de gênero no Brasil é algo recente, mas já consolidado na sociedade. Cada geração de mulheres jovens tem uma maior consciência dessa desigualdade nas relações pessoais, no trabalho, em escolas e universidades”, afirma Jacira.
De acordo com a Comissão Econômica das Nações Unidas (CEPAL), as mulheres podem ganhar até cerca de 30% menos que os homens no mercado de trabalho estando em condições semelhantes, ou seja, realizando as mesmas funções.
Além de ganhar menos, a mulher ainda enfrenta a dupla jornada de trabalho, que se estende ao voltar para a casa e realizar as tarefas domésticas. Injusto? Sim.
Jacira Mello também falou que as pessoas até entendem racionalmente essa diferença de gênero, mas que o conceito de família “normal” onde o homem trabalha e a mulher faz as tarefas domésticas é tão forte e enraizado no dia a dia que as pessoas deixam de refletir sobre o assunto quando mais precisam.
Essa diferença se torna ainda maior quando se trata de mulheres negras.
Duplo preconceito
Ser mulher negra é algo que aflige parte da população. Elas normalmente são discriminadas tanto por serem mulheres, quanto por serem negras; além de serem estereotipadas de mulheres pobres, que geralmente trabalham como empregadas domésticas.
“As mulheres negras além de sofrerem com o machismo sofrem com o racismo. Essa dupla pressão coloca as mulheres negras numa situação muito maior de vulnerabilidade social”, afirma Djamila Ribeiro, pesquisadora da área de filosofia política e feminista.
Esses estereótipos da sociedade fazem parte do processo cultural. Desde a abolição da escravatura, os negros não tiveram o auxilio necessário para reinserção na vida social, com oportunidades iguais às dos brancos. Consequentemente, essa falta de socialização tornou os negros vítimas de racismos e injúrias raciais. E, claro, a mulher negra é a que mais sofre.
“O racismo é algo muito perverso, porque nem sempre ele é declarado, e as mulheres negras são tratadas de forma diferente. Não importa o nível cultural ou social que ela tenha, o racismo continua”, disse a advogada e presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP, Carmen Dora.
Feminicídio
Segundo o Mapa da Violência de 2015, o número de brasileiras negras mortas aumentou 54% em dez anos. Isso equivale a quase 3 mil mortes no ano de 2013. Já o homicídio de brasileiras brancas aumentou quase 10%, o equivalente a cerca de 1,5 mil casos.
Apesar dos números, ainda existe muita resistência ao termo “feminicídio”. “As pessoas têm resistência ao termo porque não pensam na importância dele. A maioria dos feminicídios é feita com requintes de crueldade. Não existe matar por amor; as pessoas matam por ódio e por acharem que têm posse da mulher”, disse a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão.
Feminicídio é quando uma mulher é assassinada devido ao preconceito de gênero. Muitas vezes, os delitos são cometidos por ex-parceiros que não aceitaram o término de uma relação, ou foram denunciados por violência, entre diversos outros casos.
“A cada assassinato de uma mulher, a imprensa busca uma justificativa para o crime. Ciúme, traição, rompimento de uma relação etc. Toda vez que se tem uma cobertura que reflete o que a sociedade está acostumada a pensar, você reforça o feminicídio. Ao buscar uma justificativa você permite que mais casos aconteçam. Não existe justificativa para uma pessoa assassinar outra. Isso é uma expressão de ódio”, conclui.
Caso do goleiro Bruno
Recentemente, o país foi surpreendido com a soltura do goleiro Bruno. Condenado em primeira instância pela morte da modelo Eliza Samudio, Bruno recorreu da sentença e aguarda um novo julgamento desde 2013. Sua prisão era preventiva, e pelo tempo de demora do julgamento, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que a prisão havia sido longa demais. Com isso, o ministro Marco Aurélio de Mello do Supremo fez uma liminar autorizando o goleiro a aguardar o julgamento do recurso em liberdade.
Logo após deixar a prisão, Bruno conseguiu restituir seu trabalho como goleiro em um clube de futebol.
A soltura e a sua reinserção no trabalho gerou muita discussão com opiniões diversas entre a população. Desde críticas ao sistema judiciário até críticas sobre a ressocialização do jogador.
Há quem ache adequada essa ressocialização e há quem considere esse caso como uma banalização do feminicídio e uma agressão aos direitos das mulheres.
“Só é possível fazer uma ressocialização se houver uma responsabilização, ou seja, o indivíduo violento deve reconhecer seus erros e refletir sobre isso para poder ser inserido novamente na sociedade. A situação do Bruno é ruim para o debate não só com relação às mulheres, mas para a sociedade como um todo; é um péssimo exemplo de falha e lentidão da justiça”, conclui Jacira Mello.
fabiana
24/03/2017 @ 23:54
Belissimo texto, esta é a minha aréa de pesquisa e sou facinada em discutir a questão de gênero, pois é uma discursão relevante para a sociedade a qual fazemos parte.
Nalva
01/05/2020 @ 18:16
Triste né?
Fico muito triste quando em roda de conversas a mulher fala vc viu a safada a vagabunda traiu o marido achei bem feito o que o marido bem com ela pena que não matou, por outro lado o homem é ninguém a expõe ridicuraliza ele isso me consome, não aceito traição de nenhuma parte, mas sonho em vê a traição de ambos ser julgado com o mesmo peso.
Francisco Ubirajara Araujo
23/04/2021 @ 18:32
Bom. Tem primeiro mudar as cultura da família na educação sobre sexo respeita todos seja homem mulher para que seja digno na sociedade ser aceito sem criticar uma grande batalha
francisco ubirajara araujo
16/05/2021 @ 22:54
otimo teste ser for fala de tudo vai um livro com as diferencias de sexos acessos ao cursos estudo estatuto da criancas .diferencias de salario da mulher negras..a falta de formação levar as pessoas ganhar menos
tetefreitaas
21/09/2021 @ 22:18
Parabéns pelo texto! Conceitos aparentemente óbvios ainda estão em desuso hoje em dia. A ideia distorcida do feminismo é um ato de imensa ignorância, absurdo! Admiro sua iniciativa para falar de um tema “polêmico” e, devo dizer, exerceu a tarefa com explendor! #nóspornós
British Council apoiará projetos voltados para adolescentes negras
21/12/2021 @ 17:30
[…] projetos podem ser de programas de formação para docentes ou estudantes abordando questões de gênero e raça de forma interseccional; de campanhas de comunicação sobre questões de gênero, raça, trabalho […]