‘Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores’ faz 50 anos e continua atual
Música eternizada na voz de Geraldo Vandré criticava a Ditadura Militar
Por Caio Lencioni
Com um refrão marcante que soava como protesto durante a Ditadura Militar brasileira, a música ‘Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores’, também conhecida como ‘Caminhando’, completa 50 anos agora em 2018.
Mesmo após tanto tempo, a música continua sendo um símbolo de resistência e crítica ao autoritarismo, além de fazer referências à realidade de muitos brasileiros, como no verso “Pelos campos há fome em grandes plantações”, que alerta sobre a fome, a pobreza e a desigualdade existentes no Brasil. Os problemas foram amenizados de lá para cá, mas seguem existindo e nos últimos anos têm voltado a crescer. No ano passado, o relatório Luz da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável alertou sobre os riscos de o Brasil voltar ao Mapa da Fome da ONU, do qual saiu em 2014.
Muitas pessoas se sentiram representadas pela canção de Vandré, já que convergia tantas vozes que não concordavam com a ditadura. A obra também se tornou um hino de resistência do movimento civil estudantil, que fazia oposição à Ditadura Militar. Mas fazer oposição tinha um preço. Os “anos de chumbo” fizeram com que muitos músicos que protestavam através de sua arte tivessem que deixar o Brasil. Assim foi com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e tantos outros artistas. Com Geraldo Vandré, autor da música ‘Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores’, não foi diferente.
Em 1968, por conta do Ato Institucional Cinco (AI-5), que resultou na suspensão de garantias constitucionais, o compositor chegou a ir para o Chile, depois para Argélia, Grécia, Áustria, Bulgária e França. Retornou para o Brasil em 1973.
Talvez a música se mostre atemporal em seus versos. Será que, mesmo com a “história na mão”, estamos “aprendendo e ensinando uma nova lição”? Ou como a própria música diz em referência aos ensinos em quartéis, estaríamos aprendendo “uma antiga lição de morrer pela pátria e viver sem razão”?
Ainda em relação a uma possível interpretação da obra, a frase “e acreditam nas flores vencendo um canhão” pode nos remeter também a uma utopia. Como definia o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), a utopia é algo que está sempre no horizonte. “Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
Sergio guimarães
18/10/2018 @ 12:24
Muito bom o texto, épocas sombrias que pelo que noto, com o andar lento quase parando das carruagens perigamos retornar a essa época, conforme que irá representar a esta nação, aliás em alguns momentos já sofremos com alguns tipo de arbitrariedades e compadrios favorecendo certas pessoas, estamos como num barco a deriva, sem rumo, e pelo jeito continuaremos a espera de um rumo certo para nos salvar…