Projeto capacita catadores para lidarem com lixo eletrônico
Iniciativa ajuda na geração de renda e evita danos à saúde desses profissionais
Por: Isabela Alves
O Brasil é o país que mais gera lixo eletrônico na América Latina, segundo a ONU. Só em 2014, o país gerou 1,4 milhão de toneladas de resíduos eletrônicos. No mundo, foram 42 milhões de toneladas no mesmo período, e até 90% desses materiais, com valor estimado em US$ 19 bilhões, são comercializados ilegalmente ou jogados no lixo comum.
Preocupados com o destino do lixo eletrônico e pensando na geração de renda que ele pode possibilitar, em 2010, o Instituto GEA, ONG especializada em educação ambiental, e o CEDIR-USP (Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática da Universidade de São Paulo) realizaram uma parceria para capacitar catadores para mexerem com resíduos eletrônicos.
Os catadores são responsáveis por quase 90% de todo o lixo reciclado no Brasil, então é importante que esses profissionais saibam lidar com os resíduos eletrônicos. Além do efeito nocivo desse tipo de material sobre o meio ambiente, o lixo eletrônico pode causar danos à saúde humana, como doenças cardiovasculares, danos ao DNA e até câncer.
“Esse curso que o GEA deu através da Caixa Econômica foi muito bom, não só porque eu aprendi que tem muito material contaminado, mas também pela minha renda, que melhorou, e pela saúde”, relata Li Oliveira, catadora de Curitiba (PR) que começou a trabalhar quando tinha apenas 10 anos, por necessidade. Segundo a profissional, antes de realizar o curso, ela não tinha noção do perigo existente nos computadores descartados e os manuseava sem luva e sem máscara.
“O projeto conseguiu levar esse conhecimento sobre resíduo eletrônico, ensinando como as cooperativas e os cooperados devem se precaver para evitar contaminação humana ou do meio ambiente, além do valor que esse material tem para todo o território brasileiro”, explica Ana Maria Domingues Luz, ambientalista e presidente do Instituto GEA.
Troca de experiências com os catadores
Agora em março, ocorreu o primeiro Encontro Nacional das Cooperativas de Reciclagem de Resíduos Eletrônicos na USP, espaço que deu voz para que os próprios catadores de diferentes locais do Brasil discutissem as novas possibilidades que o lixo eletrônico proporcionou a eles.
“Cada cooperativa tem um conhecimento diferente e esse momento foi muito importante por conta da troca de experiência. Todas as cooperativas são umas diferentes das outras, então a gente pôde aprender muito”, relata Laiane Vieira da Silva, 34 anos, catadora e presidente da Cooperlagos em São José do Rio Preto (SP).
Nas cooperativas, quando os catadores recebem o lixo eletrônico, eles desmontam, separam os resíduos, e encaminham tudo para os seus compradores. Agora com a capacitação, além de saberem lidar com esse material, eles também têm a consciência de que devem encaminhá-lo somente para empresas certificadas, para que estas realizem o descarte consciente.
CEDIR: o procedimento ao receber os equipamentos
Criado em 2009, o Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR-USP) é um projeto que tem como objetivo promover o descarte correto do lixo eletrônico.
“Existia uma grande quantidade de resíduos eletrônicos que necessitavam ser gerenciados. Não dava para simplesmente colocar em uma sala e fingir que o problema não existia”, explica Tereza Cristina Carvalho, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), fundadora e diretora geral do Laboratório de Sustentabilidade em TI (LASSU) e coordenadora do CEDIR.
O projeto recebe resíduos da população em geral. Primeiramente, o projeto tenta recuperar o equipamento para que ele volte ao reuso. Quando recuperado, ele é encaminhado a escolas, delegacias, projetos sociais, entre outros locais.
Se ele não pode ser reutilizado de forma completa, é reutilizado de maneira parcial, ou seja, as peças são retiradas. Em situações em que o equipamento chega em uma situação onde o reuso não é possível, por conta de estar antigo ou totalmente queimado, ele é encaminhado para o processo de reciclagem.
Um fato importante é que o equipamento não volta para a sociedade em forma de doação, porque ele seria utilizado e depois, no fim da vida útil, seria descartado de maneira incorreta. O CEDIR realiza um empréstimo. Assim, o projeto tem o controle total sobre o material, desde o momento em que foi emprestado até o seu descarte final.
Projeto da USP capacita jovens de baixa renda na área tecnológica
20/04/2021 @ 16:05
[…] Politécnica (Poli-USP), com suporte do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR), ambos coordenados por Tereza […]