A água que não está nos reservatórios
Movimentos sociais buscam alternativas como a construção de cisternas e o mapeamento de nascentes para amenizar os efeitos da crise para a população
Por Josilene Rocha
O principal sistema de armazenamento de água da Grande São Paulo, o Cantareira, encontra-se com menos de 10% de sua capacidade. O índice é baixo para fevereiro e existe a possibilidade de não subir o suficiente até o fim do período de chuvas. Como ele, outros sistemas apresentam muito menos água do que seria necessário para suportar a época de estiagem. Assim, é cada vez mais urgente buscar formas alternativas de se obter o recurso.
Em julho de 2014, quando a crise já começava a se agravar, um grupo de cinco pessoas decidiu procurar opções para captar água. Uma das primeiras atitudes foi lançar uma página wiki em que pessoas de diferentes lugares pudessem apresentar propostas. Uma dessas propostas foi a construção de cisternas. O grupo gostou dela e lançou o Movimento Cisterna Já, em outubro.
“Nós escolhemos a ideia da cisterna por ser algo bastante acessível, já que é rápido e simples de construir, barato e traz um benefício imediato. Se você tem uma cisterna em casa e chove, automaticamente você já tem água na sua casa”, explica a jornalista e ambientalista Claudia Visoni, uma das criadoras do movimento.
Apesar de não ser potável, a água da chuva serve para diversas atividades, como dar descarga no vaso sanitário e regar as plantas. Por isso, Claudia acredita que a captação dessa água deveria ocorrer em larga escala. “A gente acha importante que isso se torne política pública. Nós queremos inspirar não só a sociedade civil, mas também o governo, para que haja água assim em locais como escolas e postos de saúde”, diz.
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Outro projeto que dá atenção para a água que não está nos reservatórios é o Existe Água em SP, criado pelo administrador de empresas e ativista ambiental Adriano Sampaio. O projeto consiste no mapeamento das nascentes da cidade e na recuperação de algumas delas.
Para encontrar as nascentes, eles usam como referência um mapa de 1930 com os cursos dos rios da capital. A partir dele, fazem uma sobreposição com o mapa atual disponível no Google e saem em expedição.
De 2013, quando a iniciativa começou, para cá, o Existe Água em SP já encontrou cerca de 50 nascentes. Muitas delas estão em bairros de periferia e são utilizadas para diversos fins por moradores das comunidades – inclusive para beber. “Eu encontrei várias nascentes das quais o pessoal bebe e isso é muito perigoso para a saúde. Eu mesmo tomei água de uma delas e peguei uma virose. Fiquei dez dias doente”, conta o ativista, que destaca que, diante da falta de água nos reservatórios, o poder público deveria incluir em seus planos a avaliação da qualidade da água de nascentes.
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“A nossa iniciativa é também para que o poder público faça análise dessas águas, para dispor para a população. E eu tenho encontrado vários afluentes, que são pequenos riachos, de água limpa na cidade, que têm espaço físico para fazer um sistema de captação da água e dá para instalar mini-estações de tratamento, o que poderia minimizar os efeitos da crise hídrica”, explica.
Atualmente, o foco do projeto é encontrar as nascentes e divulgar a existência delas, através de vídeos publicados no Facebook, para que cidadãos e poder público se interessem em preservá-las, mas o plano é buscar apoio e patrocínio para em breve promover uma série de mutirões de plantio e recuperação de nascentes.
A sociedade civil diante da crise hídrica
27/02/2015 @ 11:39
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