Após um ano da tragédia, bombeira relembra salvamentos em Brumadinho
Karla Lessa Alvarenga Leal, major do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, foi a primeira a chegar ao local para realizar resgates
Por: Isabela Alves
Em 25 de janeiro de 2019, o país presenciou uma de suas maiores tragédias: o rompimento da barragem de rejeitos da Mina do Feijão, em Brumadinho (MG).
Desde o desastre, que está completando 1 ano, 259 pessoas foram encontradas mortas, 11 continuam desaparecidas e o sentimento é de desolação.
A tragédia aconteceu três anos e dois meses após o desastre ambiental em Mariana, também em Minas Gerais, no qual morreram 19 pessoas.
O primeiro salvamento
A notícia do rompimento da barragem pegou a todos de surpresa. Naquele dia, a Central de Atendimento do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais começou a receber diversas ligações de emergência e todos entraram em estado de alerta.
Sem ter uma dimensão do que estava acontecendo, Karla Lessa Alvarenga Leal, major do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, prontamente organizou uma equipe com nove profissionais (entre eles mecânico, tripulação, bombeiro, copiloto, médico e enfermeiro) para sobrevoar o local.
“Por volta de 12h40 tivemos a confirmação do rompimento. Fomos para lá sem mais informações. Ultrapassamos a serra e, à medida que íamos descendo, começamos a ter noção do que estava acontecendo. Vimos só os telhados das casas, veículos enguiçados e um pontilhão de concreto que havia sido levado”, conta a major.
Em questão de minutos, a aeronave da primeira mulher a pilotar um helicóptero do Corpo de Bombeiros no Brasil foi a primeira a chegar ao local. Imediatamente, ela acionou todas as aeronaves disponíveis para ajudar no trabalho de resgate.
Parte da sua equipe foi para um campo de futebol para prestar os primeiros socorros às vítimas. Ela e mais dois tripulantes voltaram para as buscas. “Voltamos com o mínimo de equipamento para deixar a aeronave mais leve. Nossa intenção era resgatar o máximo de pessoas possível”.
De primeira, ela acreditou que seria fácil encontrar os corpos, já que as pessoas iriam gritar por ajuda, mas a realidade foi o oposto: não era possível enxergar e ouvir os pedidos de socorro, pois as vítimas estavam encobertas pela lama. Quando o helicóptero estava voltando do primeiro sobrevoo, a equipe encontrou dois rapazes na lama salvando uma adolescente.
Durante o resgate dessa jovem, ela diz que viveu um dos momentos mais difíceis de sua carreira. “Naquele momento, eu só pensei que não podia errar e tinha que ser precisa”, diz.
Ela manteve o helicóptero perto do solo, mas sem pousá-lo, por conta do solo impróprio. Foi um trabalho minucioso, pois a aeronave se manteve no ar por cerca de 7 minutos, o que era muito tempo diante daquelas circunstâncias. A vítima resgatada era Talita Cristina de Oliveira, de 16 anos. Com a bacia e pernas fraturadas, ela estava se afogando na lama.
Os rapazes que a encontraram estavam procurando por parentes.
A major diz que se Talita não tivesse sido salva naquele instante provavelmente teria morrido.
A jovem ficou internada por quase seis meses, passou por quatro cirurgias no quadril e no fêmur, e teve alta em julho de 2019. As imagens do resgate foram gravadas com exclusividade pela Rede Record.
Após deixar Talita no campo de futebol, Karla foi ao resgate de outra vítima. Esta estava politraumatizada e fora da lama. Paloma Prates da Cunha, de 23 anos, havia sido arrastada pela avalanche de rejeitos. Ela havia quebrado o nariz e o osso esterno (peito) e passou 4 dias internada. Na tragédia, Paloma perdeu o marido Robson, de 26 anos; o seu bebê e único filho, Heitor, de 1 ano e 6 meses; e a irmã caçula, Pamela, de 13 anos.
Paloma também foi encaminhada para o campo de futebol para receber os primeiros socorros. Os médicos avaliaram que as duas deveriam ser levadas às pressas para o hospital.
“O atendimento sempre é a parte mais difícil. A adrenalina sobe e é preciso fazer um exercício mental para se manter calmo. Nós lidamos muito com o sofrimento e aquele é o dia mais difícil da vida de alguém. Como bombeiros, não podemos transmitir pânico para não causar mais danos do que o acidente em si”, conta Karla. Depois desses dois resgates, a major trabalhou três dias seguidos na organização do tráfego de aeronaves e na otimização dos recursos disponíveis.
Karla Lessa também atuou nos resgates em Mariana. Pouco tempo depois que ela tinha acabado de assumir o cargo de Comandante, ocorreu a tragédia. “A diferença entre as duas tragédias é que em Mariana a área de extensão do desastre ambiental foi maior, enquanto o número de vítimas foi menor. A operação de resgate em Brumadinho também durou muito mais que Mariana e não tem prazo para terminar”.
O trabalho do Corpo de Bombeiros ainda não acabou. Em cerca de 4 mil horas de operação, mais de 3 mil bombeiros participaram dos trabalhos e não mediram esforços para salvar vidas. No total, foram localizadas 96% das vítimas da tragédia e quase 7 milhões de metros quadrados já foram vistoriados. O resgate em Brumadinho se tornou a maior operação de buscas do país.
“Continuamos na busca para dar conforto para os familiares, para que eles possam enterrar o ente querido de maneira digna. Cada vida é um universo, por isso é impossível mensurar as consequências que a tragédia trouxe para as pessoas da região”, diz.
Para a população da cidade de Brumadinho, a dor ainda é pulsante e muitos sofrem atualmente com o adoecimento mental. De acordo com um levantamento divulgado pelo portal G1, o uso de antidepressivos cresceu 56% e o de ansiolíticos aumentou 79% em comparação com 2018. Os casos de suicídio passaram de 1 para 5, sendo 3 no município e dois na região. As tentativas foram de 29 para 47.
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