Brasil: 10 milhões de crianças sobrevivem em famílias com renda de R$ 300
10,5 milhões de crianças têm menos de R$ 303 para se alimentar, comprar roupas, medicamentos e gastar com momentos de lazer mensalmente.
Dados compilados pela Fundação Abrinq revelaram que, nos últimos cinco anos, aumentou em mais de 2 milhões o número de crianças que têm renda familiar de até um quarto do salário mínimo no Brasil. Isso significa que 10,5 milhões de crianças com menos de 14 anos têm menos de R$ 303 para se alimentar, comprar roupas, medicamentos e gastar com momentos de lazer mensalmente.
Esses dados foram extraídos da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, e revelam, na visão dos especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, um problema social grave, com impacto econômico, educacional, de segurança e saúde pública.
Um levantamento feito pelo 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), mostra que o Brasil tem cerca de 33,1 milhões de pessoas passando fome, o dobro do número observado em 2020.
Ao mesmo tempo que milhões de pessoas passam fome no país, o governo federal destruiu e praticamente zerou o orçamento do principal programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar. Intitulada Alimenta Brasil, a ação é voltada para a compra da produção agrícola de famílias e doação de comida para pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional.
Sem recurso, cooperativas encerraram suas atividades e projetos assistenciais reduziram a qualidade da comida oferecida para famílias carentes, crianças em creches e idosos em acolhimento.
Alimentação inadequada e escassa na primeira infância (de 0 a 6 anos de idade), como demonstrado em diversos estudos e pesquisas, pode influenciar no desenvolvimento motor e intelectual da criança.
No Brasil, milhões de crianças estão em famílias que fazem parte da extrema pobreza, com falta de alimentação. Com a geladeira praticamente vazia, Vitória Raquel Peçanha Guimarães Abreu, de 18 anos, ouve a filha, que já nasceu com fome, pedir comida. Sem dinheiro para se alimentar, a jovem mal conseguia comer durante a gestação.
“Na gravidez da minha filha, eu passei fome e ela já nasceu desnutrida. Não sabia que o pai dela usava drogas. Depois, descobri que ele gastava o dinheiro com o vício e deixava a gente com fome”, conta Vitória em entrevista à BBC News Brasil.
“O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990”, destacou a rede PENSSAN ao divulgar o resultado onde mostra que mais de 33 milhões de pessoas passam fome no país. O levantamento anterior havia apontado que o cenário da fome no país remontava ao que era observado em 2004.
Fonte: BBC Brasil