Como a pandemia impactou a filantropia no Brasil e no mundo?

Evento online organizado pelo Movimento Bem Maior discutiu as mudanças, oportunidades e desafios da filantropia no contexto da pandemia de Covid-19

Por: Júlia Pereira

Qual o impacto da pandemia de Covid-19 na filantropia em todo o globo? Esse foi o ponto de partida do Webinar Diálogos do Movimento Bem Maior: Filantropia Estratégica no Brasil e no Mundo, realizado na manhã desta quinta-feira (29/10).

O evento foi organizado pelo Movimento Bem Maior, que tem como missão fomentar a filantropia no Brasil.

A palavra inicial foi de Clare Woodcraft, diretora executiva do Centro de Filantropia Estratégica da Universidade de Cambridge. A convidada especial apresentou os resultados da pesquisa Philanthropy in times of Coronavirus, realizada pela instituição.

O objetivo do estudo foi avaliar a filantropia em países emergentes no contexto da pandemia de coronavírus a fim de identificar oportunidades e desafios da área em momentos emergenciais como o atual.

Segundo Clare, as principais mudanças percebidas com a pesquisa foram o empoderamento de receptores de países emergentes, como o Brasil; um processo menos burocrático para financiamento e doações às instituições e uma união maior entre pares para garantir um impacto mais positivo, como países do hemisfério sul mais unidos formando colaborações mais fortalecidas.

A diretora executiva enfatizou que tal união é muito importante para empoderamento da filantropia, principalmente em países emergentes do sul do globo.

“Sabemos que a Covid-19 está atingindo todos esses mercados. Pensamos que se esse novo comportamento vir das grandes fundações, essa mudança poderia acontecer, potencialmente, a longo prazo”, diz Clare.

Além da união entre instituições, a disseminação de informações sobre a filantropia também é um ponto crucial para fortalecimento do setor. Quem afirma isso é Rubens Menin, CEO da MRV Engenharia e cofundador do Movimento Bem Maior.

Segundo ele, para fortalecer a filantropia no Brasil, é preciso mostrar à população a importância de cada doação e o impacto que os recursos têm na vida dos beneficiários e de toda a sociedade.

O contexto da pandemia evidenciou essa importância e foi um momento ideal para captar um grande grupo de pessoas que se voltaram à filantropia. A tarefa daqui para frente, segundo Rubens, é não perder a atenção dessas pessoas.

“Não podemos perder essas pessoas e, mais do que isso, não podemos perder as empresas. Precisamos desse tripé: colocar as empresas em jogo, envolver mais as pessoas e ter bons projetos. Somando esses três pontos, a gente volta ao que é mais importante: mostrar à sociedade a importância desses projetos, como fazem o bem e como se voltam a toda a sociedade, não apenas a quem recebe os recursos”, explica.

Além de mostrar o impacto positivo da filantropia na vida das pessoas, é necessária a prestação de contas aos doadores. Segundo Patrícia Villela, presidente da Humanitas360 e fundadora da Civi-Co, a transparência é essencial para fortalecimento do setor. “Os recursos existem. A gente precisa saber onde eles estão sendo colocados”, destaca.

O cenário pandêmico evidenciou vários problemas na sociedade que, antes da crise, não ganhavam a atenção de grande parte da sociedade. Essa mudança foi fundamental para que grupos ainda maiores enxerguem as falhas e possíveis formas de ajudar outros mais vulneráveis, o que defendeu Elie Horn, CEO da Cyrela e cofundador do Movimento Bem Maior.

“Não importa a causa. Precisamos que as pessoas tenham uma consciência maior de todos esse problemas”, aponta Elie.

O fortalecimento da filantropia também foi um aspecto defendido por Eugênio Mattar, CEO da Localiza e cofundador do Movimento Bem Maior, que ressaltou a necessidade de se observar e se adequar ao contexto no qual o mundo está inserido hoje: a era das redes sociais e das conexões. Com o trabalho em rede, pessoas físicas, empresas, governos e instituições podem realizar, segundo ele, um trabalho filantrópico muito mais efetivo.

“Nós estamos na Era das Conexões, da rede social. A conexão hoje é muito rápida. Primeiro, parte da gente como pessoa física criar esse legado da filantropia. Por meio das conexões, quanto mais gente criar esse legado, mais gente vai ser impactada”, diz.

O trabalho em rede, com todos os atores da sociedade envolvidos, impacta ainda mais pessoas e se fortalece. De acordo com José Ermírio de Moraes Neto, presidente executivo do Conselho Curador do Hospital AC Camargo Cancer Center, a pandemia mostrou ainda mais a importância da parceria dos governos com o trabalho das instituições filantrópicas do país.

“O setor público precisa acreditar nessa parceria com o setor privado. Eu acredito que esse seja o caminho que nos leva para frente”, enfatizou José Ermírio.

O evento foi mediado por Flávio Castro, sócio-diretor da FSB Comunicação, e encerrado por Carola Matarazzo, diretora executiva do Movimento Bem Maior.

“Nós do Movimento Bem Maior acreditamos que está sim nas mãos de organizações da sociedade civil buscar soluções para problemas sistêmicos!”, finalizou Carola.