Doação no Brasil: renda influencia quantia, não a proporção

Cultura de Doação
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O artigo “Renda e Doação de Dinheiro em Países de Renda Média: Evidências do Brasil”, baseado nos dados da Pesquisa Doação Brasil 2020 e escrito por membros do IDIS, apresenta dados sobre a  cultura de doação no país. Análise sugere que o desejo de ajudar transcende as barreiras econômicas, de maneira que diferentes classes sociais doam uma parte similar de seus ganhos.

Imagem: Adobe Stock

Em um país com profundas desigualdades econômicas como o Brasil, a relação entre renda e comportamento de doação para causas sociais levanta questões importantes sobre solidariedade e justiça social. No artigo “Renda e Doação de Dinheiro em Países de Renda Média: Evidências do Brasil“, publicado na revista Journal of Philanthropy and Marketing, Paula Fabiani, CEO do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), junto com os pesquisadores Marcos Paulo de Lucca Silveira e Flavio Pinheiro, avaliam hipóteses com base nos dados da Pesquisa Doação Brasil 2020.

A investigação, que envolveu 2.099 brasileiros, revela que, embora famílias com rendas mais altas doem quantias maiores em termos absolutos, a proporção da renda doada é praticamente a mesma em todas as faixas de renda. “No artigo, avaliamos as principais hipóteses sobre a influência da renda nas doações para organizações da sociedade civil, usando como base os dados da Pesquisa Doação Brasil 2020. Além de contribuir com novas evidências para o tema, chama a atenção como não temos diferenças de percentual da renda doado entre as classes sociais. Num país tão desigual como o Brasil devemos pensar em ações e políticas para aumentar o percentual de doação dos mais privilegiados”, afirma Fabiani.

Os autores do estudo propuseram três hipóteses principais: a renda influencia a probabilidade de doar, o valor absoluto doado e a proporção da renda doada. Surpreendentemente, a pesquisa mostrou que a renda familiar não tem um impacto significativo na probabilidade de alguém doar. Pessoas de diferentes faixas de renda têm chances semelhantes de realizar doações. Isso sugere que o desejo de ajudar transcende as barreiras econômicas e pode estar mais ligado a fatores culturais e sociais.

No entanto, quando se trata do valor absoluto doado, a tendência é clara: famílias com rendas mais altas tendem a doar mais dinheiro. Essa observação é consistente com a ideia de que, com mais recursos disponíveis, os indivíduos se sentem mais confortáveis em contribuir com valores maiores. No entanto, a proporção da renda doada não muda significativamente entre as diferentes classes de renda, indicando que tanto os ricos quanto os pobres doam uma parte similar de seus ganhos.

Essas descobertas têm implicações importantes para a formulação de políticas públicas e estratégias de incentivo à doação. Em um cenário onde a desigualdade é alta, como no Brasil, seria esperado que os mais abastados contribuíssem com uma parte maior de sua renda. No entanto, o estudo indica que isso não ocorre naturalmente. Como sugere Fabiani, é necessário desenvolver políticas e incentivos que motivem os mais ricos a aumentar suas contribuições, aproveitando a sua maior capacidade econômica para gerar um impacto positivo mais significativo.

Cultura de Doação no Brasil

A pesquisa também traz insights valiosos sobre o comportamento de doação durante crises, como a pandemia de Covid-19. Durante a pandemia, houve um aumento significativo nas doações, refletindo uma resposta coletiva a um momento de necessidade aguda. A edição de 2020 da Pesquisa Doação Brasil capturou essa mobilização, mostrando que a filantropia pode se fortalecer em tempos de crise e que a generosidade pode se espalhar por todas as camadas sociais.

Em relação a filantropia, o estudo “Renda e Doação de Dinheiro em Países de Renda Média: Evidências do Brasil” é uma contribuição importante para a compreensão dela em países de renda média. O Brasil, com sua complexa estrutura econômica e social, fornece um cenário único para explorar como a renda influencia a doação. Em muitos estudos anteriores, focados principalmente em países desenvolvidos, a dinâmica em economias emergentes frequentemente foi negligenciada. Este artigo, portanto, ajuda a preencher essa lacuna, oferecendo uma nova perspectiva sobre o comportamento de doação em um contexto latino-americano.

À medida que a cultura de doação continua a evoluir no Brasil, entender as dinâmicas subjacentes que incentivam as pessoas a doar é essencial. O artigo destaca a importância de considerar não apenas a capacidade econômica, mas também os fatores culturais e sociais que influenciam a generosidade. Com base nessas descobertas, organizações de caridade e formuladores de políticas podem desenvolver estratégias mais eficazes para promover a doação em todas as faixas de renda, fortalecendo o papel da filantropia como uma força para o bem social e contribuindo para a redução das desigualdades no país.

A vulnerabilidade social é um problema que atinge uma parcela significativa da população do Brasil, aumentando a importância da cultura de doação no país. Segundo o Mapa das Organizações da Sociedade Civil, existem, aproximadamente, 800 mil organizações sem fins lucrativos no país, que precisam de doações para atuar em diferentes causas. Para falar também sobre cultura de doação no Brasil, o programa Perspectiva do dia 21 de maio, do Observatório do Terceiro Setor, trouxe especialistas no tema para aprofundar as discussões sobre o assunto.


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