Policiais no Brasil morrem mais no período de folga e por suicídio
Em 2022 morreram 173 policiais assassinados e 82 por suicídio; daqueles que foram mortos, 7 em cada 10 morreram na folga. Foram 40 policiais a mais assassinados em comparação com 2021.
Dados da 17ª Edição do Anuário de Segurança Pública referentes às mortes de policiais civis e militares em 2022 disponibilizados pelas secretarias estaduais de segurança pública mostra um cenário já observado nos anos anteriores: policiais morrendo mais em confronto ou por lesão não natural na folga (homicídios, latrocínios e/ou lesão corporal seguida de morte), depois por suicídio e, por último, em confronto em serviço. Em 2022 morreram 173 policiais assassinados e 82 por suicídio. Daqueles que foram mortos, 7 em cada 10 morreram na folga. Foram 40 policiais a mais assassinados em comparação com 2021.
Em anos anteriores já discorremos sobre os motivos que ajudam a explicar porque os policiais morrem mais na folga do que em serviço e vale retomarmos alguns aspectos. Nós sabemos que tanto policiais civis quanto militares são orientados a se colocarem na condição de policiais 24h por dia, não importa se na folga ou em serviço. São policiais e ponto. Parte da categoria tem, inclusive, dificuldade em adequar seu comportamento quando o ambiente não é composto por pares. Ademais, a atividade profissional os obriga a tomarem constantes medidas de proteção que podem ser desde andarem armados constantemente, a não frequentar determinados locais.
O fato é que na folga esses profissionais estão desassistidos por suas instituições de origem. Não há comunicação por rádio imediata, não há outras viaturas se deslocando para o local ou mesmo a farda que faz com que qualquer pessoa os identifique, mesmo que à distância. Com isso, o socorro pode demorar a chegar em caso de necessidade. A situação complica quando se trata de municípios menores e do interior dos estados. Em comparação, no ano de 2021, foram 6 no total os policiais civis mortos em confronto em serviço: 1 no DF, 1 em Pernambuco e 4 em São Paulo. Para Tocantins, Amazonas e Rio de Janeiro as informações não estavam disponíveis e em todos os outros, segundo os registros, não houve nenhum policial civil morto em serviço em confronto. No caso de policiais militares, foram 34 mortos em confronto em serviço no ano de 2022: 01 na Bahia, 02 no Espírito Santo, 01 no Pará, 01 no Paraná, 02 em Pernambuco, 01 no Piauí, 01 em Roraima, 17 no Rio de Janeiro, 02 em Santa Catarina e 06 em São Paulo.
Para Goiás e Amazonas, essas informações não estão disponíveis. Nos demais estados, segundo os registros, não morreu nenhum policial militar em confronto em serviço. Em 2021, foram mortos 15 PMs nas mesmas circunstâncias: 5 na Bahia, 1 no Ceará, 1 no Pará, 2 em Pernambuco, 1 no Rio Grande do Sul, 01 em Santa Catarina e 04 em São Paulo. Para Amazonas, Goiás, Tocantins e Rio de Janeiro essas informações não estavam disponíveis e nos outros estados, em 2021 não morreu nenhum PM em confronto em serviço.
Diante desse cenário, questiona-se sobre quais circunstâncias ocorreram às mortes de policiais em confronto em serviço. Dentre as quais, aspectos relacionados ao nível de força utilizada; a compatibilidade de armamento diante do sinistro; a experiência profissional; o treinamento tático; as condições psicológicas do policial; o ambiente de confronto; o alinhamento de procedimento da equipe policial; a inexistência de planejamento para a atuação; a resposta adequada diante do fator surpresa em desfavor da equipe; o conhecimento prévio do terreno do confronto; dentre outros. O destaque sobre o dado sobre policiais mortos em confronto em serviço revela as circunstâncias da exposição do profissional durante sua atuação. Os pontos acima descritos importam porque sugerem reflexões sobre procedimentos táticos, bem como, sobre a necessidade do financiamento das instituições para aquisição de equipamentos necessários à proteção dos policiais durante as atividades demandada.
Em 2022 morreram 20 policiais civis em confronto ou por lesão não natural fora de serviço, ou seja, lesão intencional provocada por terceiro. Foram 02 na Bahia, 01 no Ceará, 01 em Goiás, 02 no Pará, 01 em Pernambuco, 01 no Piauí, 02 no Rio Grande do Norte, 02 em Rondônia, 07 em São Paulo e 01 no Tocantins. Para Rio de Janeiro e Amazonas as informações são inexistentes e nos outros estados não ocorreram mortes nessas circunstancias.
Em 2022 morreram 105 PMs em confronto ou por lesão não natural fora de serviço. Um em Alagoas, 02 no Amapá, 08 na Bahia, 07 no Ceará, 02 no Espírito Santo, 05 em Goiás, 03 no Maranhão, 01 em Mato Grosso, 14 no Pará, 06 na Paraíba, 10 em Pernambuco, 14 no Piauí, 04 no Rio Grande do Norte, 04 no Rio Grande do Sul, 01 em Santa Catarina, 19 em São Paulo, 01 em Sergipe, 03 em Tocantins. Não existem informações disponíveis para Amazonas e nos outros estados, segundo os registros, não morreu nenhum policial militar nessas circunstâncias.
Nesse aspecto, as mortes de policiais em confronto ou por lesão intencional provocada por terceiro fora de serviço, coincidência ou não, constituem a informação que menos expõe a responsabilidade do Estado desde o campo da segurança pública, frente à proteção dos respectivos profissionais. Ainda que sejam decorrentes de desentendimento entre o policial e outro agente em espaços comuns, por vingança em virtude de atuação policial em serviço, por ter o policial respondido de imediato ao se deparar com a ocorrência de um crime, ou mesmo por atuação durante cumprimento de outra atividade laboral, especialmente, os chamados “bicos”, as mortes provavelmente possuem relação com a função que exercem nas instituições.
Os policiais militares que foram assassinados eram, em sua imensa maioria, homens (98,4%) negros (67,3%) e principalmente na faixa entre 40 e 44 anos. O que revela que os policiais experientes foram os mais vitimados.
A Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu uma série de objetivos ambiciosos no ano de 2015 por meio de um “Pacto Global”, que envolve os seus 193 países membros. Ao todo, o projeto da ONU contempla 17 ODS, ou seja, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O ODS 3: saúde e bem-estar. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos e em todas as idades; e o ODS 16: promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis, estão diretamente ligadas aos problemas enfrentados pela policia no Brasil. Para conhecer todos os ODS clique aqui.
Fonte: 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública