Projeto busca combater o HIV entre jovens da periferia de SP

Iniciativa atua para facilitar acesso dos jovens à Profilaxia pré-exposição (PrEP), um tipo de medicação que ajuda a prevenir o HIV. Projeto atua em Cidade Tiradentes, na Zona Leste da capital paulista

Por: Mariana Lima

Em novembro de 2020, o espaço que o coletivo Organização Social Identidade Periférica (OSIP) ocupa para realizar suas atividades na Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, passou a acolher o projeto PrERP15-19.

O projeto atua para apresentar o uso da PrEP (Profilaxia pré-exposição), medicação que funciona como uma dosagem reduzida dos retrovirais de uso diário, para prevenir o HIV e levar o tratamento para além da região central da capital de São Paulo.

O público-alvo do projeto são os adolescentes de 15 a 19 anos, que se identificam como homens gays, mulheres trans e travestis e que residem na região.

Além de colaborar para a redução da incidência do HIV em uma região periférica, o projeto promove a aceitação ao tratamento com a PrEP e ao autoteste para o HIV.

De acordo com uma pesquisa do Ministério da Saúde, divulgada na revista científica Medicine, os casos de HIV e Aids triplicaram entre os jovens de 15 a 19 anos no Brasil entre 2006 e 2015.

A escolha por trazer o projeto para uma região periférica veio após a identificação de que, enquanto o público LGBT da região central conhece o tratamento da profilaxia, as regiões periféricas enfrentam o desconhecimento, o acesso limitado e o estigma evidente.

O projeto PrEP1519, realizado pela USP em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), surgiu na região central da cidade ainda em 2019. Mas, o mapeamento do público fez com que a iniciativa direcionasse a atuação para o bairro, uma vez que muitos dos atendidos na região central vinham da Zona Leste.

De acordo com o Painel Prep, do Ministério da Saúde, dos mais de 8 mil usuários de profilaxia em São Paulo, 83,6% são gays/homens que fazem sexo com homens (HSH cis). Cerca de 64,56% também se autodeclaram como brancos ou amarelos.

O quadro indica um dos fatores que motivaram o projeto a se direcionar para o bairro: apesar da profilaxia ser gratuita e oferecida pelo Sistema Único de Saúde, são os brancos e com poder aquisitivo mais elevado que conseguem melhor acessar o programa.

Pensando também em quem se sente inibido a procurar ajuda ou informações presencialmente, ou até pelo momento de pandemia de Covid-19, e que as saídas às ruas diminuíram, o projeto também conta com o suporte da ‘robô’ Amanda Selfie.

A ‘A-manda Selfie’ é uma robô travesti que funciona em um perfil criado nas redes sociais, como o Instagram e Facebook, e responde automaticamente dúvidas sobre profilaxia relacionadas a infecções sexualmente transmissíveis.

O projeto vem acompanhando 125 participantes e oito iniciaram a prevenção com o uso da Prep. em Cidade Tiradentes. A meta é que o projeto se expanda para o Itaim Paulista, também na Zona Leste.

No Total, o projeto PrEP1519 conta com 871 participantes em três cidades: São Paulo, Salvador e Belo Horizonte.

O estudo encaminhado pelo projeto é financiado pelo Ministério da Saúde e pela organização internacional Innovation in Global Health (Unitaid), funciona como uma espécie de ensaio que busca identificar se vale a pena criar políticas públicas baseadas na ação.

Vale ressaltar que o apoio não é feito em dinheiro, mas sim com materiais, equipe e medicamentos. O prédio em que o coletivo OSIP atua e permite que o projeto funcione é da Defesa Civil, mas estava abandonado sem cumprir função social, motivando a ocupação do coletivo que divide o espaço com outros coletivos de teatro.

Os profissionais da saúde, pesquisadores, educadores e jovens da localidade atuam no projeto de forma voluntária, sem receber nenhuma remuneração.

O projeto funciona no espaço das 16h às 21h de segunda a sexta-feira e aos sábados o serviço funciona das 15h às 18h, na Rua Sara Kubtschek, 165, próximo do Terminal de Ônibus Cidade Tiradentes.

Fonte: Agência Mural