Mais da metade da população brasileira faz doações pontuais
As causas mais populares são as que envolvem organizações religiosas e crianças
por Diego Thimm
O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), que representa a Charities Aid Foundation (CAF) no Brasil, divulgou um novo estudo sobre o comportamento dos brasileiros na prática de doação. O ‘Country Giving Report – Brasil’ (Relatório de Doação dos Países, em tradução livre) contou com dados de 1.313 pessoas entrevistadas através de um questionário online.
O relatório aponta que mais da metade (68%) da população nacional doou dinheiro nos últimos doze meses. Este número levou em consideração também doações realizadas para organizações religiosas, que representam a causa que mais mobilizou os brasileiros (49%), seguida de projetos ligados a crianças (42%).
Os meios mais utilizados para realizar doações no país foram o dinheiro (37%), a compra de mercadorias (28%) e a aquisição de rifas (28%). O valor médio doado, por ano, chegou a R$250, uma média de R$200 entre as mulheres e R$350 entre os homens.
Segundo a diretora-presidente do IDIS, Paula Fabiani, o estudo confirmou que os mais velhos costumam doar mais, mas que isto pode variar de acordo com a causa. Um exemplo é a doação para iniciativas de direitos humanos e LGBT, que chegou a 5% entre os jovens e apenas 1% entre as pessoas com mais de 55 anos.
Os mais jovens (18-24 anos) são mais propensos a fazer trabalhos voluntários, atividade que 52% dos brasileiros realizaram, pelo menos uma vez, nos últimos doze meses.
Sobre os motivos, metade da população (51%) afirmou que doa porque se sente bem. “Têm inclusive estudos que comprovam o benefício do altruísmo para a própria saúde”, comenta Paula. A segunda motivação mais citada foi a preocupação com a causa (41%), seguida de pessoas que acreditam que precisam contribuir para a resolução de problemas sociais (40%).
Renda e doação
O relatório mostra que brasileiros com renda anual acima de R$100 mil têm uma média de R$353 doados, contra R$120 das pessoas que possuem renda anual abaixo de R$10 mil. Proporcionalmente, os mais necessitados doam três vezes mais do que os que ganham mais.
“Acho que quando as pessoas dizem que, se ganhassem mais, doariam com mais frequência, é uma desculpa do brasileiro”, diz Paula sobre o dado de que 59% dos entrevistados disseram que se tivessem uma renda maior, seriam mais solidários.
Desafios
Paula Fabiani diz que a cultura de doação no Brasil possui ainda bastante campo para desenvolvimento, mas que são necessárias mudanças estruturais nas organizações. “É preciso investir na comunicação e transparência das ONGs. Não adianta apenas colocar um balanço patrimonial no site. É necessário mostrar a prestação do trabalho realizado em uma linguagem que o público entenda”, explica.
Aliado à comunicação institucional, Paula fala que é importante que haja uma revisão das políticas de incentivos. “O processo da doação deveria ser facilitado. Diferente das empresas, há poucos incentivos fiscais para pessoas físicas”. O estudo mostra que 23% dos entrevistados, com renda anual acima de R$100 mil, doariam mais se tivessem vantagens.
Ela ainda diz que a própria palavra ‘doação’ também carrega um estigma negativo. “Precisamos passar de uma ideia de assistencialismo, para modelos que sejam realmente transformadores”, conclui.