Espaço em São Paulo reúne negócios de impacto social
Aberto desde novembro de 2017, o CIVI-CO já conta com 46 organizações do setor 2.5 e do terceiro setor
Por Caio Lencioni
A Yunus, organização pioneira em desenvolver negócios sociais no mundo, define os negócios sociais como “empresas que têm a única missão de solucionar um problema social, são autossustentáveis financeiramente e não distribuem dividendos”.
Esses negócios integram o chamado setor 2.5 (lê-se dois e meio), pois misturam características do segundo setor, formado por empresas privadas com fins lucrativos, e do terceiro setor, composto por organizações privadas sem fins lucrativos.
Nos negócios sociais, as organizações aliam a visão de mercado para serem financeiramente viáveis, sem recorrerem a doações por exemplo, e a visão social para contribuírem com melhorias na sociedade.
Em 2017, a Pipe Social, plataforma que dá visibilidade a startups, realizou um estudo em que mapeou 579 negócios sociais no Brasil. Desse total, 63% estão no Sudeste do país, sendo que 43% estão apenas no estado de São Paulo.
Com a ideia de gerar um ecossistema que reunisse organizações do setor 2.5 e do terceiro setor, Patrícia Villela Marino e Ricardo Podval criaram em 2017 o CIVI-CO. Das 46 organizações instaladas no espaço, que funciona como um ambiente coletivo de trabalho, 40% são organizações do terceiro setor.
“A Patrícia me convidou para participar do projeto e eu entrei como sócio. Naquele momento da minha vida eu queria participar de um projeto que gerasse sentido, algo com propósito”, conta Podval, que, após sete anos vivendo na China, retornou ao Brasil para participar da criação do CIVI-CO.
Na posição de CEO do espaço, Podval diz que os negócios sociais são necessários pelo fato de a desigualdade ser alta. “O Brasil está entre as 10 maiores economias do mundo e ao mesmo tempo está entre os 10 países mais desiguais”. De acordo com o empresário, todas as organizações presentes no CIVI-CO impactam, juntas, 7 milhões de pessoas.
Podval também destaca que a nova geração está em busca de propósitos, o que significa uma oportunidade para os negócios sociais. “É uma geração que quer ter um pertencimento social e consumir de forma consciente, pensando na forma como a matéria prima é retirada e como os funcionários daquela empresa são tratados”.
O empresário também diz que, até 2030, 70% dos consumidores de produtos e serviços oferecidos pelo setor 2.5 serão jovens, e que as empresas do segundo setor terão que se adaptar para não perderem esse público.
Sobre as dificuldades comuns nas organizações do terceiro setor, o CEO do CIVI-CO aponta a captação de recursos como a principal e destaca que esse é um dos motivos pelos quais os negócios sociais têm crescido.
“No Brasil não há uma cultura de doação. Nesse sentido, a captação se torna mais difícil, principalmente para as pequenas entidades. Com isso eu vejo que as organizações procuram um modelo sustentável”, finaliza.
Para que uma organização se instale no CIVI-CO, é necessária a apresentação do modelo de negócio, seja ela com ou sem fins lucrativos.
Através do modelo é analisado o impacto da entidade e se ele se encaixa em algum dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Além disso, é avaliada a escalabilidade do projeto e é feita uma entrevista para saber mais detalhes da proposta.
Agenda Edu
Uma das organizações do setor 2.5 instaladas no CIVI-CO é a Agenda Edu, que surgiu de um problema de comunicação entre escola e pais de alunos, como coloca Erika Sales, que integra a equipe do projeto.
Um dos desenvolvedores percebeu que a ideia de agenda de papel, em que recados e avisos sobre as atividades escolares dos alunos eram colocados, não era tão efetiva quanto deveria, em um cenário em que a tecnologia avança a cada dia.
“Com isso ele pensou na possibilidade de que os avisos e recados poderiam ser notificados no e-mail ou alguma mensagem no celular, amadurecendo a ideia para uma agenda virtualizada”, explica Erika.
Num primeiro momento, a plataforma era voltada para educação infantil, mas, devido ao crescimento, consolidaram a marca Agenda Edu, que agora abrange mais de 1000 clientes, como universidades e escolas de ensino médio e infantil, em todo o Brasil.
Além das principais informações escolares, como notas, faltas, recados sobre atividades escolares, boletos e calendário escolar, a plataforma também permite que os responsáveis tenham informações sobre a alimentação e a saúde dos alunos, como aplicação de remédios, anexo de receitas, horários, pausas, entre outras funcionalidades.
Para Erika, o diferencial de estarem numa instalação como o CIVI-CO é o ecossistema. “Dialogar com essas diversas organizações faz com que surjam ideias”, diz.
Atina
Outro negócio social presente no CIVI-CO é a Atina, que começou desenvolvendo mapas socioculturais, com imagens e conteúdos de diversas regiões do Brasil, para conectar alunos e professores aos locais em que eles vivem.
No início, a organização vendia o material pela internet. “Em uma das vendas eu mesmo levei os livros. Eu queria saber o porquê da escola estar adquirindo, foi quando descobrimos que havia uma deficiência nos materiais didáticos, pois eram iguais para o país inteiro. O Brasil é um ‘continente’; há realidades diferentes”, conta Vinicius Saraceni, CEO da organização.
Vinicius ainda cita como exemplo a realidade de jovens de diferentes bairros. “Se a gente for falar do bairro de Pinheiros e do Capão Redondo [em São Paulo], são mundos completamente diferentes. Agora imagine que os jovens desses dois bairros recebem o mesmo material de uma comunidade ribeirinha”, reflete.
Ao desenvolver esse raciocínio sobre a deficiência dos materiais didáticos, Vinicius também percebeu que isso causava um afastamento dos alunos em relação aos professores, já que os mesmos não se identificavam com o que era ensinado. “Até mesmo o professor começa a ter uma certa desmotivação, já que os alunos não mostram interesse em aprender”.
O CEO diz que, até o final do ano, o material chegará a 1 milhão de estudantes de escolas públicas, de cerca de 2,5 mil escolas. Além disso, ele diz que 2 mil professores foram diretamente capacitados.
Prosas
O Prosas surgiu em 2015 como desdobramento da Nexo, que funciona como uma consultoria para investidores sociais.
Com a alta demanda de consultoria, tanto em relação à captação de recursos quanto a detalhes sobre editais, resolveram criar uma plataforma que reunisse dois serviços: monitoramento e seleção de projetos para quem investe na área social, e lista de editais para organizações que precisam de recursos.
De acordo com o sócio-fundador Bruno Barroso, a plataforma possui quase 38 mil usuários cadastrados, com cerca de 14 mil perfis de empreendedores.
A organização possui duas estruturas comerciais em São Paulo: no Cubo Itaú, que reúne empresas, investidores e universidades com foco em tecnologia, e no CIVI-CO, para facilitar o intercâmbio de ideias com pessoas vinculadas a projetos de impacto social.
Bruno conta, inclusive, que a parceria com o Observatório do Terceiro Setor, que também está entre as organizações do CIVI-CO, gerou um fluxo alto de visualizações na plataforma.
Quintessa
Fundada pelo empreendedor Leo Figueiredo, em 2009, a Quintessa surgiu com a ideia de auxiliar empreendedores e empresas com viés social por meio de quatro frentes de atuação.
Uma delas é o Programa de Aceleração, em que a gestão é estruturada através de uma análise de prioridade para que haja um crescimento do negócio. A duração desse serviço é de aproximadamente 12 meses.
Outra frente é a Aceleração Focada, em que num período de aproximadamente quatro meses é realizado um recorte específico para validação, que tem como foco o crescimento de um negócio de estágio avançado ou inicial.
Já a Assessoria para Captação tem como objetivo preparar as organizações para que obtenham êxito na captação de recursos, conexão e negociação com potenciais parceiros.
Além desses três, há também o Programa de Parceria com Empresas, em que a ideia é buscar, selecionar e acelerar os negócios para que sejam superados os desafios de inovação e sustentabilidade de grandes empresas e entidades parceiras.
A diretora do Quintessa, Anna de Souza Aranha, diz que já são cerca de 50 negócios que adquiriram os serviços da organização e que 6 milhões de pessoas já foram impactadas direta ou indiretamente por esses negócios.
Alessandra Ferrero Branco
01/10/2018 @ 12:18
Olá, tudo bem? Eu tenho muito interesse em trabalhar com impacto social, porém estou tendo muita dificuldade em achar vagas, vocês tem dicas de como eu poderia ingressar neste mercado? Muito obrigada!!
Programa que impulsiona negócios sociais abre inscrições
10/10/2018 @ 13:11
[…] a Quintessa, Civi-co e Pipe Social, negócios sociais que você pode saber um pouco mais clicando aqui, acabam de lançar o Hangar. O programa tem como objetivo ajudar empreendedores a iniciarem a […]