Webinar discute fake news e os movimentos anti-vacina no Brasil
O encontro, promovido pelo Portal Comunique-se, contou com a participação de Natália Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa e professora do LupaEducação; Emmanuel Colombié, diretor regional do Repórteres Sem Fronteiras da América Latina; e o médico Dráuzio Varella
Por: Isabela Alves
Como ocorreu com todas as outras profissões, a pandemia trouxe novos desafios para os jornalistas de todo o mundo. Além de muitos estarem fora das redações, eles estão sofrendo com o abalo emocional acima da média da população, seja por conta do grande número de fake news circulando nas redes sociais, seja por conta dos ataques que a profissão vem sofrendo.
Para falar sobre esta situação, no dia 10 de dezembro, ocorreu o evento ‘FAKE NEWS: O risco dos movimentos anti-vacina para a cura da Covid-19’. A iniciativa, promovida pelo Portal Comunique-se, em parceria com o MediaTalks by J&Cia, procurou abordar o impacto da proliferação das fake news em relação à vacina para a Covid-19.
O encontro contou com a mediação dos jornalistas Rodrigo Azevedo, Luciana Gurgel e Eduardo Ribeiro. Os entrevistados foram Natália Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa e professora do LupaEducação; Emmanuel Colombié, diretor regional do Repórteres Sem Fronteiras da América Latina; e o médico Dráuzio Varella.
“Continuamos sendo alvos de ataques, porque a máxima de atacar o mensageiro continua em voga. É importante a gente questionar o que está acontecendo. A desinformação é crescente. Por mais que a gente trabalhe e lute contra isso, a gente sabe que ela existe como uma estratégia de manipulação do debate público”, diz Natália Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa.
Leal também destaca que, quando se existe polarização na sociedade e no governo, é comum que ocorra esse fenômeno. O Brasil é um dos países que vivem essa realidade, já que 73% dos brasileiros acreditam em fake news sobre a Covid-19. A jornalista ainda acredita que esses momentos de turbulência vão se intensificar durante os próximos meses.
Emmanuel Colombié, diretor regional do RSF da América Latina, aponta que com a pandemia aumentou o clima de ódio contra os jornalistas. Segundo ele, as fake news fazem parte de um sistema mais amplo de desinformação. Enquanto lideranças políticas atacam os jornalistas, desqualificam o seu trabalho e questionam os fatos, mais líderes autoritários tomam o poder.
“Especialmente em regimes autoritários, quando se tem os seus interesses contrariados, eles tentam desacreditar a imprensa. Isso acontece com todos aqueles que defendem posições que estão de acordo sobre o que a gente sabe da doença e quais medidas devem ser tomadas. Eles são contra a ciência e a imprensa, mas não com argumentos, e sim com violência”, afirma o médico Dráuzio Varella.
Como é possível combater as fake news e de onde elas surgem?
Para Leal, o jornalismo precisa reconquistar o seu espaço de confiança na sociedade no geral. Com a pandemia, o jornalismo se provou fundamental para toda a sociedade, no entanto, também é necessário pensar na carga emocional destes profissionais.
“A transparência é um pilar fundamental do jornalismo. Tudo deve ser claro, de onde vem e por que as coisas são desse jeito. A pandemia ajudou a trabalhar essa sensação de falso equilíbrio que existe no jornalismo hoje e que é muito prejudicial para a prática e para a comunicação com o público”, explica.
Ela afirma que existem pessoas que lucram com a desinformação, como o crime organizado, e também existem pessoas que são ingênuas e podem passar adiante as notícias falsas por desconhecimento.
“Lideranças políticas atacam jornalistas e os meios de comunicação que produzem informações que criticam decisões do seu governo. Os grupos de poder tendem a investir cada vez mais recursos na manipulação que circula na internet. Notícias que favorecem um grupo ou prejudicam outros são fabricadas sob demanda com o objetivo de deslegitimar uma visão sobre o assunto da pauta da agenda pública”, afirma Colombié.
Segundo ele, a pandemia foi uma grande oportunidade para que governos autoritários focassem na sua luta pelo poder. Essa situação gerou desafios ao trabalho jornalístico até nos aspectos de acesso à informação sobre os números de contaminados e mortos pela doença. O jornalista afirma que o direito à saúde está diretamente ligado ao direito de informar.
O médico Dráuzio Varella ainda reflete que as fake news podem destruir reputações e que os ataques da internet são violentos. Segundo ele, é necessário que esses crimes sejam punidos de alguma maneira e que o Facebook crie um algoritmo para verificar as informações que entram na rede.
De acordo com um estudo lançado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, as notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que as verdadeiras e alcançam muito mais gente.
Para o médico, as pessoas contestam até hoje as informações sobre os cuidados que se deve ter durante a pandemia, pois para a população em geral não é agradável obedecer às regras. O próprio Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que morreriam mais pessoas de fome do que de Covid-19, e que o país não poderia parar, pois a economia iria quebrar. Até o momento, foram 179.765 vidas perdidas para a doença.
Em relação à vacina para Covid-19, Dráuzio Varella alerta que, enquanto o Reino Unido já começou a vacinação, o Brasil já possui várias vacinas, mas nenhuma está disponível, ou demonstrou 100% de eficácia. O Governo do Estado de São Paulo anunciou que a vacinação ocorrerá no Estado a partir do dia 25 de janeiro, aniversário da cidade.
Para assistir ao debate completo, veja o vídeo abaixo: