Empoderando Refugiadas – a luta pela inclusão
Iniciativa tem como foco a mulher refugiada e sua integração na sociedade brasileira, principalmente no mercado de trabalho
Com o intuito de quebrar o preconceito, diminuir as barreiras e dar apoio, assistência e uma vida digna às pessoas que precisam de refúgio, foi criado o projeto Empoderando Refugiadas.
A iniciativa é do Grupo de Direitos Humanos e Trabalho da Rede Brasil do Pacto Global, junto com a ACNUR, a ONU Mulheres, a Cáritas São Paulo, a empresa de recursos humanos Fox Time e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). E conta ainda com o apoio das Lojas Renner, Itaipu Binacional, Sodexo e Consulado da Mulher.
Ao longo de 2015, foram cerca de 30 mulheres auxiliadas, refugiadas ou solicitantes de refúgio, de diferentes países. Essas mulheres participaram de workshops sobre temas como planejamento financeiro, direitos como refugiadas e trabalhadoras, e práticas para melhorar o português. Além disso, receberam sessões de coaching e articulação com futuros empregadores para ingressarem no mercado de trabalho.
Por que a mulher?
Beatriz Carneiro, secretária executiva da Rede Brasil do Pacto Global, afirma que esse projeto causou grande impacto na vida dessas refugiadas e de suas famílias: “Nós sabemos que quando você emprega uma mulher, está empregando na verdade uma família, pois a mulher reverte cerca de 70 a 80% de sua renda diretamente à família”, disse.
“A Pacto Global tem o objetivo de fazer com que as empresas atuem em prol dos objetivos da ONU, e dentro desse grupo nós tínhamos a presença muito forte da ACNUR e da ONU Mulheres, e por isso nós decidimos juntar as duas iniciativas para promover algo em comum junto com outros parceiros empresariais”, disse Vanessa Tarantini, uma das organizadoras do projeto e responsável pelas parcerias e engajamento da Rede Brasil do Pacto Global.
“A Sodexo trabalha muito fortemente a questão de gênero, facilitando o ingresso das mulheres nos cargos de liderança, tendo um maior equilíbrio. Esse projeto nos chamou muito a atenção não somente pela questão de gênero, mas também pela questão racial: a mulher, negra, em situação de refúgio e desestruturada emocionalmente em muitos casos”, afirmou Marcelo Vitoriano, responsável pelo setor de Recursos Humanos – Diversidade e Inclusão da Sodexo.
O que é um refugiado?
De acordo com a definição da Agência da ONU para Refugiados, ACNUR, “São refugiadas as pessoas que se encontram fora do seu país por causa de fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais, e que não possam (ou não queiram) voltar para casa.”
Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), 65,3 milhões de pessoas no mundo deixaram suas regiões de origem por motivos de conflitos e perseguições em 2015. De acordo com a ACNUR, uma em cada 113 pessoas no mundo é refugiada, solicitante de asilo ou deslocada interna.
O Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) mostra que cerca de 30 mil pessoas solicitaram refúgio no Brasil desde o começo de 2015. Atualmente, são mais de oito mil refugiados registrados e a maioria é de origem Síria.
Evento
O encerramento oficial da primeira edição do projeto foi realizado na sede da Sodexo, em São Paulo, no dia 30 de junho. O evento reuniu diversos representantes de empresas e de organizações sem fins lucrativos para mostrar os resultados obtidos e sensibilizar os líderes empresariais em relação à causa dos refugiados no mercado de trabalho.
Resultados e Iniciativas
Até junho de 2016, foram 33 mulheres atendidas, sendo que 11 foram encaminhadas para entrevistas de emprego e 8 conquistaram uma vaga.
Ao todo, o projeto conseguiu sensibilizar 120 empresas, mostrando a importância da inclusão e incentivando a criação de ações para que essas refugiadas possam ter mais capacitação profissional.
Como exemplo, as Lojas Renner estão mudando seu processo de admissão, além de oferecerem um curso de costura através do Instituto Renner, em parceria com a Cáritas de São Paulo.
Depoimento
Prudence é uma refugiada da República Democrática do Congo, está no Brasil desde 2008 e participou do projeto Empoderando Refugiadas. Em seu país ela gostava muito de fazer desfiles de moda e trabalhava no gabinete de um major da região.
“Morei bastante tempo no Rio de Janeiro, por isso hoje me considero carioca; quando vim para São Paulo, eu procurei a Cáritas para não deixar meus filhos na rua”, disse a nova brasileira. “Refugiado é uma pessoa que tem bagagem moral, intelectual, tem força e tem muitas coisas que podem ajudar a sociedade”, afirmou Prudence, que hoje é funcionária das Lojas Marisa.
Sobre o projeto, ela disse que aprendeu como falar, portar-se e vestir-se, pois a diferença de cultura é muito grande. “Eu sei quem eu sou e sempre quis ser uma mulher poderosa, e hoje eu me sinto poderosa; não é fácil, mas eu estou lutando e hoje eu sei dos meus direitos como mulher e como refugiada”, completou.
Conclusões e Desafios
Após o debate entre as empresas presentes e as refugiadas, foram selecionados alguns tópicos que poderão ajudar na inclusão das refugiadas no mercado de trabalho, além da disseminação cultural e da inclusão nos serviços públicos, principalmente na área da saúde e educação:
– Elaboração de uma cartilha auxiliando as empresas no processo de contratação de um refugiado.
– Sensibilização dos líderes empresariais e não apenas da equipe de Recursos Humanos.
– Cotas de admissão de refugiados.
– Cursos de capacitação ministrados pelas próprias empresas.
– Período de treino (estágio) para que a refugiada aprenda o dia a dia de sua nova função.
– Atenção aos filhos das refugiadas, que devem ter acesso à educação assim como qualquer brasileiro.
Esses foram apenas alguns dos tópicos sugeridos durante o debate, mas que serão pensados e possivelmente colocados em prática, incentivando todo o setor privado na sensibilização da causa.