Mundo gerou 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico em um ano
Dado da Universidade das Nações Unidas é referente a 2016
Por Caio Lencioni
A indústria de eletrônicos é uma das que mais crescem no mundo. Celulares, computadores e televisões são lançados o tempo todo. Com isso, o descarte de produtos do gênero é feito num espaço muito curto de tempo.
Só em 2016, foram gerados no mundo 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico, um recorde, de acordo com um estudo da Universidade das Nações Unidas (UNU) e da União Internacional de Telecomunicações. Até 2021, o estudo prevê que esse número aumente para 52,2 milhões de toneladas por ano.
O documento também mostrou que, em 2014, o Brasil foi o país que mais gerou lixo eletrônico na América Latina: 1,4 milhão de toneladas de resíduos eletrônicos. De acordo com a ONU, os países que mais geram esse tipo de resíduo no mundo são os Estados Unidos e a China.
Para que o descarte desse lixo seja feito de maneira correta, a professora Tereza Cristina, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), diz que é necessário um investimento para que as pessoas sejam informadas sobre o assunto.
Aterros Sanitários
Tereza, que também é fundadora do Laboratório de Sustentabilidade em TI (LaSSu), diz que a solução não está nos aterros sanitários. “Os aterros não possuem uma garantia de segurança, já que podem explodir”. Em 2014, um operador de uma escavadeira morreu carbonizado depois de uma explosão no aterro sanitário de Betim, em Minas Gerais. De acordo com o corpo de bombeiros, o fogo começou em vasilhames de aerossol.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Reciclagem e Inovação (ABRIN), Ronaldo Stabile, diz que também não é a favor dos aterros. “Fora esse fato da explosão, tem o problema da infiltração de solo que contamina o lençol freático”, explica.
A professora Tereza lembra que em países europeus a incineração é uma alternativa para o descarte desses resíduos. “Já que nesses países não possuem usinas hidrelétricas, a incineração é usada como geradora de energia”.
Ela chama a atenção, no entanto, para o fato de que nem todos os resíduos devem ser incinerados. “Existem resíduos que podem ser reciclados e se eles são incinerados isso é uma perda”, explica.
Ronaldo Stabile, que, além de vice-presidente da ABRIN, é diretor da empresa Recicladora Urbana, cita as fitas cassetes como um exemplo do que não se consegue reciclar. “São toneladas dessas fitas que vão para aterros e ficam lá eternamente.”
Dificuldades na reciclagem de alguns resíduos
Além das fitas cassetes, outros produtos possuem resíduos na sua composição que dificultam a reciclagem, como é o caso de monitores e televisores antigos, que contêm metais pesados.
De acordo com Tereza Cristina, esses resíduos, chamados de CRTs, podem ser reaproveitados na fabricação de cerâmica, por exemplo. Mas o processo é trabalhoso e as empresas precisam pagar pela reciclagem dos CRTs. Por isso muitas empresas optam por outra “solução”: os aterros de classe 1. Os resíduos que vão para estes aterros são os que possuem propriedades físico-químicas e infectocontagiosas, que apresentam risco à saúde pública e ao meio ambiente.
Ronaldo Stabile explica que existem alguns tipos de produto, como lâmpadas, pneus e óleo, em que a logística reversa já existe como acordo setorial. Nestes casos, após o fim da vida útil do produto comprado, o consumidor pode entregar os resíduos para os próprios fabricantes, e as partes reaproveitáveis são colocadas novamente na cadeia de produção para serem usadas como matéria-prima. “Temos o fabricante e o consumidor. Nessa relação, há taxas que pagam por essa logística reversa para que o produto seja reciclado e não agrida o meio ambiente”, explica Stabile. Ele também diz que, na questão do lixo eletrônico, apenas São Paulo possui o acordo setorial no país.
Projetos
Por todo o Brasil encontramos iniciativas e empresas que realizam o tratamento do lixo eletrônico. Um exemplo é a Coopermiti, de São Paulo, em que a pessoa que deseja fazer o descarte correto do resíduo eletrônico solicita por telefone a coleta.
Outra iniciativa é o Projeto Eco-Eletro, também de São Paulo, que capacitou 180 catadores de diferentes cooperativas a manusear corretamente os eletrônicos e ofereceu a eles um ensino de controle de finanças. O projeto partiu do Laboratório de Sustentabilidade em TI (LaSSu), em parceria com o Instituto GEA Ética e Meio Ambiente.
Semelhante ao Eco-Eletro, o Projeto Descarte Legal, idealizado pela Caixa Econômica Federal, conscientiza empresas sobre o descarte incorreto do lixo eletrônico. Além disso, catadores de diversos estados do Brasil aprendem a desmontar esses aparelhos para montar novos equipamentos com as peças. Nessa iniciativa, o Instituto GEA e o Lassu foram responsáveis por acompanhar o processo de reciclagem.
A Recicladora Urbana, hoje parceira do Observatório do Terceiro Setor, também desenvolveu um projeto na área. A iniciativa consiste em soluções para logística reversa e o descarte correto de equipamentos de TI e telecomunicações que não possuem mais utilidade, ou são obsoletos.
Com ela, surgiram os produtos TI REMAKKER, computadores feitos a partir do reaproveitamento de peças de computadores usados. Os equipamentos têm origem certificada, garantia, assistência técnica e custam até 50% menos que os equipamentos novos com características similares. Os produtos são vendidos exclusivamente para organizações do Terceiro Setor.
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