Um terço de todo o alimento produzido no mundo acaba no lixo
Enquanto isso, 815 milhões de pessoas passam fome ou estão desnutridas, segundo a ONU
Por: Isabela Alves
A quantidade de alimentos produzida é suficiente para alimentar todo o globo, mas uma em cada nove pessoas no mundo ainda passa fome ou está desnutrida, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). São 815 milhões de pessoas. Deste total, 3,4 milhões vivem no Brasil.
E a situação brasileira já foi ainda pior. Até 2014, o país fazia parte do Mapa da Fome, que indica em que países pelo menos 5% da população está ingerindo menos calorias do que o recomendado.
A má notícia é que fatores como o alto índice de desemprego, o avanço da pobreza e o corte de benefícios de programas sociais como o Bolsa Família podem levar o Brasil de volta ao Mapa. Isso mesmo com a Lei 11.346/2006 e a Emenda Constitucional n° 64/2010 garantindo a alimentação sadia como um direito humano.
Desperdício
Enquanto milhões de pessoas passam fome, um terço de todo o alimento produzido no mundo acaba no lixo, segundo a FAO. Isso representa 1,3 bilhão de toneladas por ano.
Grande parte desse alimento se perde logo na cadeia produtiva, por más condições de armazenamento, transporte, embalagem e comercialização.
Só no caso do desperdício de frutas e hortaliças, 10% dos alimentos se perdem na colheita, 50% no manuseio e transporte, 30% nas centrais de abastecimento e comercialização e 10% nos supermercados e na casa dos consumidores.
Além de campanhas de conscientização sobre a melhor utilização no preparo e consumo de alimentos, é fundamental aperfeiçoar toda a cadeia produtiva.
Mesa Brasil
O programa Mesa Brasil foi criado pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) em 1994, inspirado em programas de bancos de alimentos dos Estados Unidos, já que aqui ninguém desenvolvia essa atividade. Na época, o Brasil passava por uma fase crítica em relação à fome e ao desperdício.
Inicialmente, a iniciativa atuava apenas em São Paulo, mas em 2003 se expandiu para todo o país. Hoje ela tem 16 unidades no estado e 84 em todo o país.
O programa recebe de empresas parceiras alimentos que perderam o apelo comercial, mas que se mantêm próprios para o consumo, e distribui esses alimentos entre instituições sociais. Só no ano passado, 830 organizações foram beneficiadas e 4,7 milhões de quilos de alimentos foram arrecadados.
“O Mesa Brasil coleta tudo o que dá para ser preparado, como cereais, verduras, frutas, legumes, pães e bebidas. As pessoas precisam criar a consciência de que só porque o alimento está feio, torto, ou pequeno, não significa que está ruim”, explica Karen Leal da Silva, coordenadora do Mesa Brasil em São Paulo.
Os alimentos são recolhidos nas empresas pela parte da manhã e já são entregues nas instituições pelos próprios veículos do Mesa Brasil na parte da tarde. O controle de qualidade e a seleção do que está próprio para consumo ficam a cargo do motorista e do ajudante, previamente capacitados.
Para participar do programa, as ONGs devem atender alguns critérios, como não cobrar nada pelo trabalho prestado, e preparar e servir a refeição na própria entidade. “O nome do programa vem da premissa de que é na mesa onde se tem dignidade, onde se conversa, é na mesa onde a gente deveria fazer uma refeição”, diz Karen.
O programa também promove ações educativas gratuitas, como palestras, oficinas culinárias, workshops e seminários com as pessoas que trabalham nas entidades sociais para melhorar as condições de preparação dos alimentos.
“Só em São Paulo, coletamos em torno de 400 toneladas de produtos por mês, então só aí já tem um grande impacto nesse desperdício. Ao mesmo tempo em que o desperdício me causa angústia, sinto satisfação em saber que consigo fazer com que alguns alimentos não parem no lixo e que o programa proporciona algo para pessoas que realmente necessitam”, conclui Karen Leal.
Cidades Sem Fome
Criada em 2003, a ONG Cidades Sem Fome transforma terrenos públicos e particulares em hortas comunitárias, hortas escolares e estufas agrícolas em uma comunidade da Zona Leste da capital paulista.
Além de preservar o meio ambiente, a ação promove a integração social de grupos vulneráveis que estavam passando por situação de insegurança alimentar.
Atualmente, o projeto beneficia 150 pessoas que estavam fora do mercado de trabalho por não possuir qualificação e que, com a venda dos alimentos produzidos na horta, se tornaram empreendedoras e agora podem sustentar a si mesmas e a suas famílias.
“As pessoas que estavam fora do mercado de trabalho podem ter emprego e acesso a alimentos saudáveis. Também existe a questão sustentável, pois áreas degradadas, que eram usadas para colocar lixo e entulho, foram recuperadas e se tornaram um espaço produtivo”, conta o fundador e diretor presidente da ONG Cidades Sem Fome, Hans Dieter Temp.
Os produtos são comercializados diretamente na horta, para que todo o dinheiro fique com os próprios agricultores.
No projeto, os cuidados para evitar o desperdício de alimentos já começam na hora da colheita. “As famílias que trabalham nesse projeto já passaram por muitas dificuldades, por isso elas dão valor ao alimento. Quem passa fome não desperdiça, mas usa para complementar a alimentação da sua família”, conclui Temp.
Famílias brasileiras desperdiçam em média 128 kg de comida por ano
28/09/2018 @ 12:00
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