Este ano, 123 crianças brasileiras cruzaram sem os pais a fronteira dos EUA
Foi o caso de um bebê brasileiro de apenas 1 ano e meio, encaminhado para um lar temporário após cruzar a fronteira dos EUA. Criança entrou no país após seus responsáveis ouvirem conselho de traficante
Imagem ilustrativa/ Foto: Adobe StockCom a situação do Brasil cada vez pior, muitos brasileiros arriscam suas vidas tentando cruzar a fronteira dos EUA. Agora com uma nova tática elaborada pelos coiotes, nome dado aos traficantes que fazem ilegalmente a travessia, crianças estão atravessando sem os pais a fronteira norte-americana.
Foi o caso de João (nome fictício). Com apenas 1 ano e meio, o bebê brasileiro havia começado a falar suas primeiras palavras quando sua rotina mudou por completo. De repente, ele se viu sem seus pais e familiares em uma casa na qual ninguém mais falava português, no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos. João passou a ficar tímido e calado nas semanas em que esteve em um lar temporário, rodeado de sons em inglês, enquanto sua família vivia a angústia da dúvida sobre se voltaria a vê-lo.
Ele é um dos 123 menores de idade do Brasil que cruzaram a fronteira do México com os Estados Unidos sem a companhia de adultos responsáveis por eles, segundo a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos. Esse número, referente ao ano fiscal de 2021 até maio, já é recorde.
O bebê brasileiro chegou nos braços dos avós. Segundo autoridades diplomáticas que atuaram no caso, a família foi orientada por um coiote a adotar uma estratégia arriscada.
Eles viajaram até o México em seis pessoas: os avós, os pais, um adolescente e um bebê. Pretendiam entrar juntos nos Estados Unidos, assim como já fizeram quase 22 mil brasileiros nos primeiros cinco meses de 2021, o maior número da série histórica de registros.
Antes de atravessar a fronteira, no entanto, a família foi separada em dois grupos: os pais seguiram com o filho adolescente e chegaram ao seu destino final no país. Os avós ficaram com o bebê e jamais conseguiram concluir a viagem.
O bebê foi encaminhado ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que nos últimos meses tem vivido sobrecarregado por falta de vagas para acomodar a enorme quantidade de crianças desacompanhadas dos responsáveis, que, pela atual determinação americana, não podem ser deportadas.
No caso de João, no entanto, ele não poderia ficar em abrigos para crianças. Aprendendo a andar e a falar, sua condição era muito frágil e vulnerável, e foi preciso encontrar um novo lar temporário para o bebê brasileiro com urgência.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos afirmou que “o Departamento de Segurança Doméstica encaminha para o serviço de lar temporário crianças que não têm um dos pais ou o responsável legal com eles quando chegam aos Estados Unidos e, portanto, são consideradas desacompanhadas. Isso inclui crianças que chegam ao país com um parente que não seja um dos pais”.
O órgão diz ainda que “por uma questão de política, a fim de proteger a privacidade e a segurança da criança, não identifica nem faz comentários sobre casos específicos”. E reafirma que a prioridade é manter esses menores “seguros, saudáveis e unidos aos membros da família o mais rápido possível, em segurança”.
Ainda segundo o departamento, o objetivo do governo americano é sempre reunir a família, ainda que o status migratório dela não seja legal.
De acordo com dados do órgão, em 80% dos casos a criança que passa pela fronteira desacompanhada tem familiares nos Estados Unidos. E, em mais de 40% dos casos, o familiar que está no país é seu guardião legal.
O bebê brasileiro reencontrou seus pais, mas ainda estão longe de um final feliz, já que os pais de João ainda terão que lidar com o processo de deportação que pode expulsar toda a família dos Estados Unidos.
Fonte: BBC Brasil