Frio, fome e medo: crianças imigrantes sofrem em centro de detenção nos EUA
Crianças imigrantes sozinhas sofrem com fome, sujeira, comida estragada, piolhos e frio nos centros de detenção dos EUA
As chamadas “caixas de gelo”, famosas entre os migrantes, são salas extremamente frias ou cubículos nas instalações de processamento de migrantes da Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos.
No fim de março, o CBP divulgou imagens perturbadoras das condições precárias dentro de uma instalação específica em Donna, no Texas — formada por uma série de tendas brancas. A unidade havia sido projetada para acomodar 250 pessoas, mas chegou a abrigar mais de 4 mil no pico de ocupação.
Os jornalistas não foram autorizados a falar com as crianças lá dentro. Sendo assim, rastrearam as crianças que foram liberadas para descobrir as condições nos centros de detenção americanos.
Ariany, de dez anos, que atravessou a fronteira para os Estados Unidos sozinha, passou 22 dias detida, a maior parte do tempo no acampamento de Donna. Ela estava espremida em um cubículo de plástico — assim como várias outras crianças, de bebês a adolescentes —, enrolada em um cobertor de emergência prateado.
“Estávamos com muito frio”, diz ela. “Não tínhamos onde dormir, então dividimos colchonetes. Éramos cinco meninas em dois colchonetes.”
Ariany conseguiu finalmente se reunir com a mãe, Sonia, no fim de março.
Cindy, de 16 anos, também mantida em Donna nesta primavera (no hemisfério norte), conta que havia 80 meninas em seu cubículo, e que ela e a maioria das crianças ficavam molhadas sob os cobertores, devido ao gotejamento de canos. “Todos nós acordamos molhados”, revela.
“Dormíamos de lado, todos abraçados, por isso ficávamos aquecidos.”
Várias crianças, incluindo Ariany e Paola, uma jovem de 16 anos também liberada do centro de Donna, contaram à BBC que recebiam comida que tinha vencido, estava estragada ou não havia sido cozida adequadamente. E disseram que muitas crianças adoeciam.
“Algumas meninas desmaiaram”, relata Jennifer, que tinha 17 anos na época de sua detenção.
Algumas meninas no centro de Donna podiam tomar banho uma vez por semana, mas outras relataram que não tomaram banho por várias semanas seguidas. Paola sofreu com a sujeira.
“Comecei a sentir minha cabeça coçando e percebi que não era normal. Eles examinaram minha cabeça e falaram que eu estava com piolho.”
Com as crianças comendo e dormindo num espaço apertado, os cubículos rapidamente ganhavam um cheiro desagradável. Ariany disse que os guardas ameaçavam as crianças se elas não mantivessem seus aposentos limpos.
“Às vezes, se estivéssemos fazendo muita bagunça, eles diziam que iriam nos punir, nos deixando lá por mais dias”, revela.
À noite, de acordo com o depoimento das crianças, as tendas ficavam repletas de sons de choro. “Todos nós chorávamos, dos mais novos aos mais velhos. Havia bebês de dois anos, ou um ano e meio, chorando porque queriam a mãe”, diz Cindy.
Crianças e Covid-19
Um dia, Cindy começou a passar mal. Ela testou positivo para covid-19, assim como um número assustador de crianças migrantes em regime de detenção. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) registrou mais de 3 mil casos da doença entre crianças migrantes somente no Texas, desde o ano passado. Não se sabe qual é o número total de casos nos novos abrigos de emergência em todo o país.
Por fim, Cindy, sem saber para onde estava indo, foi transferida com 40 outras crianças que testaram positivo para covid-19, primeiramente de ônibus, depois de avião, até San Diego, na Califórnia, a 2.400 km de distância. Elas foram levadas para um novo abrigo — um centro de convenções com capacidade para quase 1,5 mil crianças — com fileiras e mais fileiras de camas de campanha frágeis.
Ela diz que foi mantida longe das crianças saudáveis, em uma seção repleta de crianças com covid-19. Segundo ela, as condições eram melhores do que em Donna, mas ainda precisou esperar alguns dias até conseguir tomar banho.
Perseguição, violência de gangues, crime organizado, perdas em decorrência de desastres naturais (incluindo dois furacões na América Central em 2020) e pobreza estão fazendo com que os pais enviem seus filhos para buscar refúgio nos Estados Unidos. Os migrantes são vulneráveis à exploração e ao abuso sexual ao longo do caminho. Crianças que fazem a viagem sozinhas têm mais riscos de sofrer exploração sexual.
Os Estados Unidos possuem um vasto sistema de centros de detenção espalhados por todo o país, que abrigam mais de 20 mil crianças migrantes.
Fonte: BBC Brasil
Este ano, 123 crianças brasileiras cruzaram sem os pais a fronteira dos EUA
16/07/2021 @ 15:31
[…] nova tática elaborada pelos coiotes, nome dado aos traficantes que fazem ilegalmente a travessia, crianças estão atravessando sem os pais a fronteira […]