25 de julho na ampliação da consciência sobre igualdade de raça e gênero
O Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é comemorado em 25 julho. Instituída no Brasil em 2014, a data nasceu com o objetivo de dar visibilidade à luta de mulheres negras contra o preconceito, a opressão e a falta de oportunidades
Por Iara de Andrade
Comemorado em 25 de julho, o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha nasceu com o objetivo de dar visibilidade à luta de mulheres negras contra o preconceito, a opressão e a falta de oportunidades.
A data foi criada em 1992, durante 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas e estimulou a Organização das Nações Unidas (ONU) a assumir pautas de raça e gênero em suas estratégias.
Instituído pela Lei nº 12.987, no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra celebra a líder quilombola e símbolo da luta e resistência do povo negro e expressa uma mobilização por igualdade de direitos.
De acordo com a Associação Rede de Mulheres Afro-Latinas, Afro-Caribenhas e da Diáspora (Mujeres Afro) cerca de 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, o que corresponde a 30% da população da região. Ainda assim, a população negra ainda é a mais afetada pela pobreza, marginalização e pelo racismo.
Mulheres negras tendem a enfrentar barreiras maiores. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) divulgou um documento, de junho de 2022, que alerta para o risco de 1/3 da população da América Latina pode ficar pobre até o final do ano. Cerca de 7,8 milhões se somariam ao cenário de insegurança alimentar, com destaque para famílias negras chefiadas por mulheres sendo as mais atingidas pela falta de comida, com 63% dos lares.
Realidade Brasileira
Em estudo “Mídias Sociais no Brasil: destilando racismo contra mulheres negras”, de 2018, o pesquisador e PHD em Sociologia Luiz Valério Trindade apontou que mulheres negras foram alvo de 81% de comentários depreciativos nas redes sociais.
Liliane Rocha, executiva negra, CEO e Fundadora da empresa de consultoria de sustentabilidade e diversidade, Gestão Kairós, afirma que os números são consequência do racismo estrutural.
“Quando as mulheres negras passam a se destacar e serem reconhecidas em suas áreas de atuação, e esse sucesso começa a repercutir nas redes sociais, há a prova de que, apesar das desigualdades sociais, elas conseguiram, em alguma medida, romper um ciclo e sair da posição subalterna. Os ataques são a manifestação do racismo enraizado na sociedade brasileira”.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre os rendimentos de 2019, indicam também um descaso no mercado de trabalho: mulheres negras recebem 57% a menos do que homens brancos e 42% menos comparado a mulheres brancas. Além disso, o salário também é 14% mais baixo em relação a homens negros.
A pesquisa Representatividade, Diversidade e Percepção – Censo Multissetorial, feita pela Gestão Kairós, com mais 26 mil respondentes, apontou que mulheres negras representam 8,9% no quadro geral de empresas, entre 32% de mulheres no total. E apenas 3% de mulheres negras ocupam cargos de gerência entre 25% das lideranças. Liliane acredita que somente a criação de políticas de igualdade racial e de gênero pelas lideranças, poderá acabar com a invisibilidade de mulheres negras:
“É possível observar que, quanto mais marcadores identitários, menor é a representatividade de mulheres negras dentro das empresas. Estamos acostumados a universalizar a questão da mulher pela mulher branca e quando olhamos para a mulher negra a gente vê que, estatisticamente, o abismo de direitos ganha proporções ainda maiores, por isso é urgente que as lideranças das empresas criem políticas que garantam efetivamente a igualdade racial e de gênero, assegurando o acesso a oportunidades e direitos básicos como educação, saúde e emprego, além, é claro, de combater a discriminação em todos os espaços”.