30 anos de Terra Yanomami em meio à onda de invasão do garimpo
Homologação da demarcação completou 30 anos em 25 de maio. Com o avanço do garimpo ilegal na Terra Yanomami, indígenas lutam contra devastação ambiental e por suas vidas
Por Iara de Andrade
A Terra Yanomami completou 30 anos de demarcação no dia 25 de maio. A maior reserva indígena do país tem cerca de 10 milhões de hectares, entre Amazonas e Roraima, onde vivem mais de 28 mil ianomâmi. Apesar do difícil acesso, uma onda de invasão do garimpo ilegal tem levado devastação à região.
De acordo com o relatório “Yanomami sob ataque”, divulgado em abril pela Hutukara Associação Yanomami (HAY): 3.272 hectares foram devastados pelo garimpo em 2021, aumento de 1.038 no período de um ano. Em 2020, a degradação foi de 2.234 hectares.
O documento ainda mapeou 40 pistas de pouso localizadas em fazendas suspeitas de prestar apoio logístico aos garimpeiros; e outras 12 pistas clandestinas usadas para transporte de pessoas, alimentos e equipamentos utilizados na extração de ouro.
Homologada em 1992, pelo então presidente Fernando Collor, a demarcação das terras indígenas yanomami foi fruto de uma batalha que durou quase 15 anos. O processo foi encabeçado pela entidade Comissão Pró-Yanomami e internacionalmente pela Survival International, organização não governamental que defende os povos indígenas ao redor do mundo.
A antropóloga e professora emérita da Universidade de Brasília (UnB), Alcida Rita Ramos, trabalha com os povos yanomami desde 1968 e conta que os conflitos na região remontam desde a década de 70, período da ditadura militar no Brasil: “Os primeiros estragos materiais foram a construção da Perimetral. Em dois anos, destruíram muito, mataram 22% da população de uma aldeia e foram embora. Até hoje, tem comunidades que não recuperaram”.
Por conseguinte, houve a massificação da invasão garimpeira e, hoje, as comunidades indígenas locais estão suscetíveis à contaminação por Covid-19 trazida pelos invasores. A presença dos garimpeiros, desde então, tem impactado também a alimentação desses povos, devido à poluição das águas, e deixou dezenas de crianças desnutridas e com sintomas de malária, em 2021. Os yanomami passaram a depender dos extrativistas para se alimentar e registros de denúncias presentes no relatório contam que garimpeiros têm exigido sexo com mulheres e crianças em troca de comida.
Fonte: G1