Alunos de projeto fazem filmes sem nunca terem ido ao cinema
Projeto social que busca empoderar adolescentes atua no bairro Santa Cruz, no Rio de Janeiro
Por: Mariana Lima
Desenvolvido pelo professor de história Ygor Lioni, o projeto Cinescola ensina estudantes do 9° ano da Escola Municipal Adalgisa Nery, no Rio de Janeiro, a produzirem seus próprios filmes.
Os estudantes não têm contato com salas de cinema, já que a mais próxima fica a 1h e meia de distância do último bairro a oeste do Rio, o Santa Cruz.
Pensando neste obstáculo e na necessidade de iniciar o contato dos estudantes com o cinema, o professor Nery resolveu criar o Cinescola.
A primeira ação do projeto foi conseguir 100 ingressos para levar os alunos à exibição de um documentário.
Foi a partir daí que a turma começou a acreditar que o projeto podia sair do papel, só precisava de um empurrãozinho.
Nery conversou com conhecidos até conseguir vídeos motivacionais de famosos como o ex-jogador Adílio e o pagodeiro Leandro Lehart. Mas o que mais motivou os adolescentes foi a gravação de Zico, ídolo do Flamengo.
O projeto se divide em três pilares: o empoderamento, a capacitação e a visibilidade, que foram construídos com a visita de artistas à escola e a ida a um festival de cinema.
Logo os alunos estavam desenvolvendo os roteiros, realizando votação das histórias para filmar e, por fim, gravando suas produções. Cada aluno tem uma função no “set”, que é descrita em um crachá.
Ao todo, foram quatro curta-metragens escolhidos, todos documentais. As histórias abordavam sonhos dos alunos e de seus pais, uma partida de futebol sem “panelinhas”, memórias afetivas usando músicas e poesias, além de autismo e inclusão.
Para que os estudantes conseguissem gravar em 4K, colegas cineastas emprestaram os equipamentos e conduziram as filmagens.
Sem verbas para o projeto, Nery não conseguiu alugar um ônibus para levar os alunos à Assembleia Legislativa do Rio, no centro da cidade, no dia em que o Cinescola recebeu o prêmio Paulo Freire, junto com outras 85 iniciativas.
O reconhecimento deve colaborar para manter o projeto no próximo ano. Mas Nery lamenta a falta de cursos de capacitação audiovisual para professores.
Fonte: Folha de S. Paulo