Aumentam mortes por câncer de mama e colo de útero em São Paulo
De acordo com a unidade de Informação e Epidemiologia da Fundação Oncocentro de São Paulo, os dois tipos de tumor apresentavam queda consistente até o ano de 2008. E após um período de redução menos intensa nos casos de câncer de colo do útero e estabilização nos de mama, as mortes voltaram a subir no estado, em 2016
Por Iara de Andrade
Dados da unidade de Informação e Epidemiologia da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp) indicam um aumento nas taxas de mortalidade por câncer de mama e colo de útero (ou câncer cervical), no estado, a partir da última década.
Os dois tipos de tumor apresentavam queda consistente até o ano de 2008. Em seguida, houve um período de redução menos intensa nos casos de câncer de colo do útero, enquanto o de mama se estabilizava. Foi em 2016 que as mortes voltaram a subir.
No último ano analisado, 2019, houve 3,2 mortes por câncer cervical e 13,8 por câncer de mama no estado de São Paulo. Em seu melhor momento, as taxas de letalidade dos dois tipos de tumor foram, respectivamente, de 2,8 e 13 mortes a cada 100 mil mulheres.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é o que mais mata mulheres brasileiras. Estima-se que o país terá 66.280 novos casos até o final deste ano. O câncer de colo de útero é o terceiro em incidência e o quarto em óbitos relacionados a essa população.
O cenário ainda passa por estudos, mas uma das hipóteses levantadas para tentar explicar a mudança no quadro epidemiológico pode estar relacionada a mudanças no comportamento sexual desse grupo e a possibilidade de estarem se infectando pelo papilomavírus humano (HPV) com mais frequência.
Transmitido via ato sexual, o HPV eleva a incidência de câncer cervical, embora seja possível prevenir o problema. Atualmente, meninos e meninas de 9 a 14 anos podem tomar a vacina contra o vírus oferecida pela rede pública de saúde.
Pandemia
Outro fator de possível influência no quadro foram as sobrecargas dos serviços públicos de saúde e as medidas de isolamento social, provocados pela pandemia da Covid-19, que dificultaram o controle e o combate ao câncer.
Pesquisadores da Unicamp e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) analisaram quantidade de mamografias, biópsias de colo uterino e exame de Papanicolau realizados no estado, de janeiro de 2017 a novembro de 2021, e constataram que, durante a crise sanitária, foram realizados em torno de 1,9 milhão a menos de exames e procedimentos do que o previsto.
Além disso, houve também uma redução de 25% na taxa de início de tratamento de câncer de mama em estágio iniciais. Já os dados sobre câncer cervical indicaram um aumento de 156 diagnósticos comparados à média do período pré-pandemia, de pacientes em estágio avançado da doença, com poucas chances de cura.
Rastreamento
Para o médico sanitarista Victor Wünsch Filho, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e diretor-presidente da Fosp, a tendência de aumento nas curvas de mortalidade resultaria de falhas nas atuais práticas de rastreamento e diagnóstico precoce, ou seja, nos procedimentos que possibilitam a descoberta de lesões pré-cancerígenas e da doença em estágio inicial. “A estrutura precisa ser alterada. É necessário implementar um rastreamento organizado de base populacional”, defende o sanitarista, que acaba de iniciar um projeto sobre o controle do câncer no estado de São Paulo no âmbito da iniciativa Centros de Ciência para o Desenvolvimento, criada neste ano pela FAPESP.
Fonte: Pesquisa FAPESP