Bebê retirado da mãe pela assistência social é morto em lar adotivo
Laura Corkill teve seu filho levado pela assistência social porque morava em um abrigo de mulheres vítimas de violência doméstica. O bebê foi assassinado pela mãe adotiva.
Laura Corkill estava morando em uma organização que ajuda mulheres que sofreram violência doméstica e sexual, quando deu a luz à Leiland-James Micheal Corkill, no West Cumberland Hospital. No entanto, 48 horas depois seu bebê foi levado pela assistência social.
O bebê foi assassinado pela mulher com quem os assistentes social o deixaram.
Quando Laura engravidou de Leiland-James, foi um momento de esperança – um momento para deixar seu passado conturbado para trás. Ela estava em um bom lugar – apoiada por Aishea Drysder, da Women Out West, uma organização que ajuda mulheres que sofreram violência doméstica e sexual.
Laura já sabia como era ter um filho levado pelos serviços sociais. Anos antes ela sofreu violência doméstica e, semanas após pedir ajuda para tirar seu parceiro abusivo de casa, os filhos foram levados. A vida dela se desfez.
“Eu queria fazer qualquer coisa possível para garantir que os serviços sociais não colocassem as mãos nele. Eu estava na nona semana de gravidez. Não tive notícias dos serviços sociais até completar 22 semanas.”
A primeira assistente social, diz Laura, parecia feliz com os preparativos para receber o bebê em casa.
Laura acredita que tudo mudou quando uma segunda assistente social substituiu a primeira. A mulher queria saber mais sobre o passado de Laura, principalmente sobre o tempo que passou com o parceiro abusivo, quando seus dois primeiros filhos foram tirados dela. A mãe diz que foi aberta e honesta.
Antes do nascimento, Laura passou por vários cursos de avaliação parental. “Eu passei por todas as fases para trazer Leiland-James para casa”. O Conselho do Condado de Cumbria tem uma versão diferente e diz que, no último mês de gravidez, o plano era recolher o filho de Laura no nascimento. A negativa foi dada três vezes a ela.
Laura contesta e diz que ainda está esperando para ver os relatórios e que só recebeu a confirmação quando a assistente social estava retirando o filho do hospital.
A casa de Laura fica nos limites de Whitehaven, em um canto de uma propriedade com vista para o porto da cidade. Tem uma vista deslumbrante. Ela está no local com Aishea, do Women Out West, e a colega Rebecca Todd. Somado o tempo de atuação de ambas, há mais de 50 anos na missão de ajudar mulheres que sofreram violência doméstica e sexual.
Elas não tinham ideia de que Leiland-James seria levado. “A primeira vez que soubemos foi quando a Laura nos telefonou da enfermaria. Ficamos devastadas”, diz Aishea. Qualquer que fosse o plano, não foi comunicado a elas, afirmaram.
Aishea diz que eles tinham seu próprio plano com Laura recebendo apoio em casa com o bebê. Depois que ele foi levado, houve várias tentativas de negociar com o Conselho do Condado para levá-lo para casa. A remoção de Leiland-James acabou sendo apenas o início de uma série de acontecimentos que se revelaram fatais. Laura, Aishea e Rebecca acreditam que as decisões foram tomadas com base no passado de Laura, uma crença de que a violência que ela enfrentou anteriormente poderia acontecer novamente, colocando ela e o bebê em risco.
Laura sofreu vários abortos após ser vítima de violência nas mãos de um parceiro anterior. Depois de um dos episódios, deitada em uma cama de hospital se recuperando de uma transfusão de sangue, os dois filhos dela foram retirados da casa da família.
Nos primeiros meses de vida de Leiland-James, Laura pôde vê-lo em um centro de contato administrado pelo conselho. Ela mostrou fotografias dela com o filho em momentos de felicidade. Laura via o filho quatro vezes por semana, durante uma hora e meia por dia. Mas a covid-19 cortou o contato. Em março de 2020, quando o país entrou em seu primeiro lockdown, ela diz que pegou dois ônibus – uma viagem de uma hora – e apareceu no centro, mas descobriu que estava fechado.
Em julho, o tribunal de família concedeu uma ordem de adoção para Leiland-James. Laura diz que não foi informada de que o Conselho do Condado já havia colocado o filho dela para adoção e encontrado uma família para ele meses antes.
O conselho diz que avisou Laura em abril de que Leiland-James deveria ser adotado.
No dia 22 de agosto de 2020, Leiland-James foi formalmente apresentado a uma mãe adotiva, Laura Castle. Em janeiro de 2021, o bebê foi levado ao hospital numa ambulância. A mãe adotiva disse aos serviços de emergência que ele caiu de um sofá, ferindo a cabeça, e que não respondia. O Conselho do Condado diz que apenas detalhes limitados foram compartilhados com Laura porque os futuros pais adotivos estavam com ele e a extensão dos ferimentos não era conhecida na época. Mas, no dia seguinte, quando ficou claro que ele provavelmente não sobreviveria, eles ligaram para Laura.
Um táxi enviado pelo conselho deveria levá-la a Liverpool, mas Laura diz que o veículo não chegou. Os funcionários de apoio na Women Out West forneceram o transporte.
Laura estava sozinha no hospital quando chegou. Ela diz que ao entrar no quarto dele, Leiland-James havia morrido.
Ela contou que instintivamente sabia que sua morte não tinha sido um acidente. “Eu disse que ele tinha sido morto. O cirurgião me disse ‘nós suspeitamos disso e foi investigado assim que Leiland-James foi para o hospital’.”
Os patologistas diriam mais tarde no tribunal que os ferimentos de Leiland-James tinham sido um indicador clássico de “traumatismo craniano abusivo” e eram da gravidade vista em acidentes de carro em alta velocidade.
Antes de Leiland-James ser colocado sob seus cuidados, Laura Castle havia concordado com a abordagem de tolerância zero do Conselho do Condado para castigos físicos. Mas durante seu julgamento pelo assassinato em maio deste ano, descobriu-se que ela havia espancado e abusado constantemente do bebê. No tribunal, ela foi descrita como egocêntrica, abusiva e violenta.
Ela filmou o bebê em perigo. Em mensagens de texto, ela se gabou para o marido de como ela o amarrou e o descreveu como “cria do diabo”.
Em um texto, ela escreveu: “Eu honestamente não gosto dele ultimamente, ele é um saco de gemidos e eu me arrependo totalmente de ter feito isso (a adoção)”.
Laura Corkill descreve a mulher que matou seu filho como um “monstro sádico do mal”. Mas ela também está revoltada com o Conselho do Condado e diz que também deve ter alguma responsabilidade por sua morte. Uma revisão de salvaguarda sobre a adoção e os eventos que levaram à morte de Leiland-James revelou que Laura Castle mentiu e enganou os assistentes sociais sobre sua saúde mental, física, uso de álcool e dívidas. Um ano e meio após o assassinato de Leiland-James, Laura Corkill diz que ninguém do conselho a visitou para pedir desculpas ou telefonou. Se ele tivesse recebido permissão para ir para casa com ela, afirma, ele ainda estaria vivo até hoje. Laura Castle está cumprindo pena de 18 anos de prisão.
No Brasil, milhares de crianças sofrem com abusos físicos, mentais e sexuais. Somente no primeiro semestre desse ano foram registradas 515 denúncias e 2153 violações contra recém-nascidos de até 90 dias, no país. Denuncie qualquer abuso no serviço disque 100. É gratuito e sua identidade é mantida em sigilo.
Fonte: BBC Brasil