Brasil abriga apenas 20% das 1.175 línguas que tinha em 1500
O Brasil abriga hoje apenas 20% das estimadas 1.175 línguas que tinha em 1500, quando chegaram os europeus. A primeira política de Estado evidente foi o Diretório dos Índios, de 1758, no qual o Marquês de Pombal exigia o uso do português na colônia e proibia o ensino das línguas indígenas (em especial da denominada língua geral, idioma de base tupi que predominou no país até o século XVIII).
O Brasil abriga hoje apenas 20% das estimadas 1.175 línguas que tinha em 1500, quando chegaram os europeus. E, ao contrário de outros países da região, como Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e até Argentina, o Brasil não reconhece como oficiais nenhuma de suas línguas indígenas em âmbito nacional.
O litoral brasileiro era repleto de aldeias indígenas quando os portugueses chegaram ao Brasil, no começo do século XVI. Como o objetivo dos colonos era a obtenção de lucro e exploração da nova terra, não demorou muito para começarem a escravizar indígenas.
Com o estabelecimento dos engenhos de açúcar no nordeste do Brasil, os colonos precisavam de grande quantidade de mão de obra. Muitos senhores de engenho recorreram à escravização de indígenas. Eles organizavam expedições que invadiam as aldeias de forma violenta, inclusive com armas de fogo, para sequestrarem os indígenas jovens e fortes para levarem-nos até o engenho. Muitos estupros de mulheres indígenas ocorreram também.
Com o decorrer dos séculos, os indígenas foram exterminados ou aculturados pela ação colonizadora e, com isso, centenas de seus idiomas foram extintos. No século XVIII, a língua portuguesa tornou-se a oficial do Brasil, o que culminou na quase extinção da língua comum.
A primeira política de Estado evidente foi o Diretório dos Índios, de 1758, no qual o Marquês de Pombal exigia o uso do português na colônia e proibia o ensino das línguas indígenas (em especial da denominada língua geral, idioma de base tupi que predominou no Brasil até o século XVIII). Mas não apenas as línguas indígenas foram alvo desse tipo de ação, também os idiomas trazidos pelos diversos grupos de imigrantes que aportaram no Brasil.
Tanto o Estado Português quanto o Estado Brasileiro independente adotaram políticas visando ao extermínio de outros idiomas falados no país, um processo denominado de glotocídio (assassinato de línguas), no qual o português foi substituindo outras línguas anteriormente faladas.
O povo brasileiro absorveu o idioma português com base em modelos precários, distantes do padrão culto da língua. No início do século XVIII, apenas 0,5% da população era letrada. O idioma se desenvolveu no país por meio da oralidade do cotidiano, de ouvido, pela a ausência de uma normatividade adquirida pela escolarização.
O Censo 2010 contabilizou 274 línguas indígenas atualmente no Brasil. Linguistas ligados às principais instituições do país, como o Museu Emílio Goeldi, no Pará, e o Museu do Índio, no Rio de Janeiro, falam em 160 a 180. Se considerarmos dialetos — variações de uma mesma língua que podem ser compreendidas mutuamente — chega-se a 218, muito abaixo das 1.175 antes da chegada dos colonizadores.
As dificuldades de mapear e registrar essas línguas, combinadas à pressão sofrida pelos grupos indígenas no Brasil, faz com que todos os idiomas nativos do país sejam, hoje, considerados como ameaçados de extinção, em maior ou menor grau.
No mundo, segundo o Fórum Permanente sobre Questões Indígenas da ONU, ao menos 40% dos mais de 6 mil idiomas mundiais falados em 2016 estavam sob risco de desaparecer, e a maioria deles eram indígenas. Em 2019, quatro em cada 10 línguas indígenas corriam esse risco.
Em 2022, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou a Década Internacional das Línguas Indígenas.
Fonte: BBC Brasil