Brasil: comércio justo de alimentos agroecológicos é possível
Parceria entre os Institutos Fronteiras do Desenvolvimento, Regenera e Clima e Sociedade, busca condições mais favoráveis para a implementação de soluções de comércio justo e transparente de produtos agrícolas locais, saudáveis e sustentáveis em Belém do Pará
Por Iara de Andrade
Focado em uma produção que atende às cadeias globais, o modelo de produção alimentar brasileiro tem como consequência a baixa diversidade de cultivo, o que, por sua vez, resulta em uma maior dependência de insumos químicos e necessidade de abertura de novas áreas.
De acordo com o documento “Uma Produção mais Responsável no Brasil”, da WWF Brasil, no Brasil, o agronegócio é responsável por 23% do PIB Brasileiro. Atualmente, o país é um dos maiores produtores de soja, carne bovina, açúcar, café e frango.
O texto ressalta que o modelo agropecuário utilizado em muitas regiões do país carece de aprimoramento tecnológico, de racionalização no uso de agroquímicos e do emprego de boas práticas e lembra que precisa haver uma evolução na conservação dos remanescentes de vegetação nativa, no uso coerente dos recursos naturais e na conservação ambiental.
Caminhando nessa linha, uma parceria entre os Institutos Fronteiras do Desenvolvimento, Regenera e Clima e Sociedade, busca condições mais favoráveis para a implementação de soluções de comércio justo e transparente de produtos agrícolas locais, saudáveis e sustentáveis em Belém do Pará.
Para tanto, em 2021, uma pesquisa qualitativa foi realizada com os moradores da cidade de Belém com o intuito de identificar o perfil do consumidor de alimentos orgânicos e agroecológicos e seus hábitos de consumo. Constatou-se que o público consumidor de orgânicos na cidade possui nível superior, maior renda e é composto por mulheres, em sua maioria, com mais de 40 anos. Além, disso, muitas das pessoas identificadas trabalham com meio ambiente.
De modo geral, diversos respondentes informaram que conscientizam seus pares sobre a questão, porém também percebem um maior apelo no impacto para a saúde sobre o discurso ambienta e sentem uma falta de comunicação na indicação de produtos sem agrotóxico, sua origem e benefícios para a saúde.
Os resultados deram fruto ao segundo Guia de Comunicação Para Comercialização Justa de Alimentos Locais, sobre a importância da comunicação para além de informar e estimular preferência por produtos locais, mas exercer um papel pedagógico fazendo com o que o consumidor entenda maneiras mais éticas, sustentáveis e saudáveis de se relacionar com a comida.
Há possibilidade de unir as pontas de produção e consumo e promover condições mais favoráveis para implementar um comércio justo de alimento agroecológicos no Brasil. O guia Recomendações e “Boas Práticas para a Comercialização de Alimentos Agroecológicos” também resultante de uma co-criação entre Tecnologia Social e atores da região de Belém, mostra isso. O documento que detém um conjunto de técnicas e metodologias inovadoras, desenvolvidas e trabalhadas com e para a população, representa soluções para a inclusão social e para a melhoria das condições de vida e que podem ser aplicadas em diversos formatos de negócio e comercialização e em diferentes locais em todo o território nacional.