Brasil registra recorde em desligamentos de trabalhadores por morte
Dados do CAGED analisados pela Kairós Desenvolvimento Social revelam que em quatro meses o país teve mais de 35 mil desligamentos por morte no trabalho formal
Por: Mariana Lima
Apenas nos quatro primeiros meses de 2021, foram registrados 35.125 casos de desligamento do trabalho formal por morte, o equivalente a 66,56% das mortes registradas em todo o ano de 2019 e 55,16% das mortes de 2020.
O cenário começou a se agravar a partir de março de 2021, com 11,1 mil mortes, quase o dobro do registrado em fevereiro, atingindo o recorde absoluto da série histórica com 11,7 mil em abril, puxado por atividades profissionais presenciais.
Os dados de aceleração dos óbitos de trabalhadores formais foram calculados pela Kairós Desenvolvimento Social com base em microdados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (CAGED).
O crescimento dos casos começou em abril de 2020, coincidindo com o início dos efeitos da pandemia de Covid-19. No mês em questão, o número de mortes ultrapassou pela primeira vez, na série histórica desde 2004, a barreira de 5 mil casos, mantendo certa estabilidade até a explosão dos dois últimos meses.
A maior elevação do número de mortes de trabalhadores em março e abril se concentra nas atividades que exigem contato pessoal e deslocamento dos profissionais, classificadas como atividades de baixa qualificação e remuneração.
Somente dez atividades concentram praticamente um terço (32,73%) de todos os desligamentos por morte. A atividade mais crítica é a de motorista de caminhão de rotas regionais e internacionais, com 1.449 óbitos em março/abril. Os professores estão em nono lugar, com 486 mortes no período.
Os motoristas de caminhão também estão na lista das 16 ocupações em que apenas os quatro primeiros meses de 2021 somaram mais mortes (2.074) do que o ano inteiro de 2019 (1.831).
A aceleração de mortes de março e abril fez a média mensal de óbitos de trabalhadores formais em 2021 bater o recorde histórico, ao atingir 8,7 mil.
Considerando apenas os dois últimos meses (março e abril), a média é de 11.418,50 mortes ao mês – duas vezes e meia a média mensal de 2019, antes da pandemia, que ficou em 4.397,25.
Os dados do CAGED se referem apenas ao emprego formal. Desta forma, estão subnotificados os casos de trabalhadores em atividades como empregadas domésticas e moto-frete, que trabalham frequentemente sem carteira assinada.