Casal viaja pelo país em busca de histórias inspiradoras e projetos sociais

Desde 2011, o casal, conhecido como ‘Caçadores de Bons Exemplos’, já percorreu mais de 1 milhão de quilômetros em busca de projetos sociais inspiradores

Por: Júlia Pereira

Até o ano de 2010, o casal Iara e Eduardo Xavier tinha um vida “normal”. Eles moravam em um bom apartamento, trabalhavam doze horas por dia na área de administração de empresas e usavam o dinheiro que recebiam para satisfazer as vontades e desejos materiais.

Mas, em meio a essa vida confortável, alguns questionamentos surgiram. O primeiro era sobre o sentido da vida. “O que nós estamos fazendo no mundo? Será que nós estamos aqui apenas para estudar, trabalhar, ganhar dinheiro, construir um patrimônio, namorar, casar, construir uma família, morrer e deixar uma herança? Ou será que a gente está aqui realmente para gerar um impacto?”, conta Iara.

Outro questionamento do casal era se o mundo realmente era um lugar ruim, levando em conta a quantidade de notícias negativas divulgadas diariamente.

Foi quando eles foram impactados por uma frase do líder pacifista indiano Mahatma Gandhi: “Seja você a mudança que quer ver no mundo”. E refletiram sobre o significado daquelas palavras.

“Para de falar de problema, vamos falar de solução. Para de ser espectador das histórias, vem fazer parte da transformação, ser personagem dessa transformação”, relembra Iara.

A ideia veio logo depois: ir à procura de histórias de pessoas que estavam fazendo a mudança no mundo por meio de projetos sociais inspiradores.

O casal vendeu tudo o que tinha, inclusive o apartamento, e, com o dinheiro, financiou o projeto nos primeiros anos. Eles escolheram uma data para colocar a ideia em prática: 1º de janeiro de 2011.

Desde então, a casa dos Caçadores de Bons Exemplos é o mesmo carro que usam na estrada, como explica Iara. “Vivemos sete anos na barraca de lona em cima do carro, depois dois anos num camper – que é uma casinha de seis metros quadrados em cima de uma caminhonete – e, agora, nós estamos com um motor home”.

As visitas à família são feitas em datas comemorativas, como Dia das Mães, Dia dos Pais, aniversários e no Natal.

Viver para ajudar o outro

O objetivo inicial era mudar a vida do casal. Como nunca tinham feito um trabalho voluntário antes, eles decidiram entrar em contato com pessoas que passaram a trabalhar pelo bem coletivo. “Que tipo de amor é esse em que você dedica a sua vida para ajudar o outro?”, questiona Iara.

Mas, quando chegaram na estrada, perceberam que guardar tantas descobertas para eles seria egoísmo. Por isso, decidiram usar as redes sociais para compartilhar as histórias que encontravam no caminho, visando inspirar outras pessoas também.

O objetivo dos Caçadores de Bons Exemplos mudou e agora eles têm mais de um propósito.

O primeiro é mudar o olhar das pessoas, mostrando que em cada lugar tem alguém ajudando na construção de um mundo melhor. Essa proposta surgiu a partir de uma mensagem que o casal recebeu.

“A gente recebeu um e-mail que dizia: ‘Obrigado por salvar a minha vida’. Era sobre um garoto que tinha tentado suicídio e decidiu não tentar mais depois que soube da nossa história”, explica Iara.

O segundo objetivo dos Caçadores de Bons Exemplos é inspirar. Iara diz que muitas pessoas querem fazer a mudança, mas não sabem como. Por isso, contando as histórias, o casal consegue fazer com que outras pessoas também pratiquem o bem.

Já o terceiro objetivo da iniciativa é conectar quem quer ajudar com quem precisa de ajuda. Após quase dez anos, o casal já possui uma grande rede de relacionamento, que permite ajudar a colocar projetos em prática.

Por fim, o quarto objetivo é valorizar e motivar as pessoas a continuarem com as iniciativas de transformação.

Resultado da iniciativa em quase 10 anos

Desde que a iniciativa foi colocada em prática, Iara e Eduardo passaram por mais de 1.300 cidades por todos os estados brasileiros e rodaram mais de 1 milhão de quilômetros – o equivalente a mais de 20 voltas ao redor do planeta.

O casal já passou por outros países da América, como Uruguai, Chile, Bolívia e Estados Unidos, e por outros continentes, como a África, mas eles ressaltam que o foco é o Brasil. “A gente precisa valorizar o que é nosso. A mudança tem que ser de dentro para fora e não de fora para dentro. Então, a maioria dos projetos que a gente conheceu foi aqui no Brasil”, explica Iara.

Esses anos na estrada e em contato com histórias diferentes resultou num mapa por geolocalização, que ajuda as pessoas a encontrarem projetos sociais próximos de onde moram. São mais de 4.300 iniciativas disponíveis no material.

Solidariedade na pandemia

Neste momento de pandemia, o casal está isolado. Eles estavam no motor home onde moram e sem contato físico com ninguém, seguindo as recomendações para evitar a contaminação pelo novo coronavírus.

Porém, depois de mais de 50 dias cumprindo a quarentena dessa forma, decidiram ficar em um apartamento vazio da família de Iara, em Divinópolis (MG).

A mudança foi feita para melhorar a qualidade do trabalho virtual que o casal está fazendo agora, com a conexão necessária para realizar as transmissões de vídeo pelas redes sociais.

Iara conta que percebeu os atos de solidariedade crescendo mesmo num cenário de crise. “Muitas pessoas não enxergavam a pobreza, não enxergavam a miséria, não enxergavam a fome. O que nos parece é que muitas pessoas acordaram desse sono profundo que estavam”, diz.

Ela ressalta que grande parte da sociedade ainda não percebeu as dificuldades que o mundo passa, mas que a solidariedade e o engajamento que cresceu neste momento já deixa o casal muito feliz.