Como um cadáver enganou os nazistas e virou herói na 2ª Guerra Mundial
O galês Glyndwr Michael enganou os nazistas e virou um herói da Segunda Guerra Mundial mesmo estando morto. Seu cadáver foi usado pelos Aliados para conquistar a Sicília, na Itália
Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos heróis surgiram para tentar derrubar Adolf Hitler do poder, mas podemos dizer que somente o galês Glyndwr Michael conseguiu fazer isso de olhos fechados. Mesmo morto ele se tornou um herói.
Sua trajetória é tão surreal que virou filme. ‘O Soldado que Não Existiu’ mostra detalhes de como o galês foi usado na ousada ‘Operation Mincemeat’ (ou ‘Operação Carne Moída’), que ajudou os Aliados a conquistarem a região da Sicília, na Itália, em 1943. O longa com o nome da operação chegou hoje (11/05) ao catálogo da Netflix.
De acordo com o historiador Ben Macintyre, autor do livro que deu origem ao filme, o cadáver de Glyndw foi encontrado em um galpão em Londres. O laudo forense da época aponta que ele morreu por ter tomado um veneno. Mas, Ben acredita que o combatente não queria se matar. “Acho que Michael deveria estar com tanta fome que comeu pão envenenado por engano”.
Independentemente dos fatos que deram fim à história em vida de Michael, sabe-se que seus restos mortais foram levados ao médico e advogado britânico Bentley Purchase. É aí que a jornada do herói se inicia.
A chegada do galês veio em ótimo momento. Afinal, Bentley já buscava o corpo de uma vítima que tivesse ferimentos semelhantes a de uma pessoa que pulou de um avião, mas deu o azar do paraquedas não abrir. Michael, de certa forma, supria essa necessidade.
Com isso, seu corpo foi enviado até os agentes Charles Cholmondeley e Ewen Montagu. Começava ali a transformação do combatente Glyndwr Michael no comandante William Martin. Ele serviria como uma isca para entregar planos falsos em fronteiras inimigas, visto que, como já estava morto, não sofria mais nenhum risco real, obviamente.
O primeiro passo foi dar a ele uma identidade falsa. O nome, William Martin, também foi escolhido propositalmente: era relativamente comum entre fuzileiros britânicos. Comum o bastante para não chamar a atenção.
O cargo militar dado a ele, de capitão, também foi bem pensado, tendo em vista que não era nenhum membro do alto escalão para ter seu rosto reconhecido pelos agentes do Eixo, mas, tampouco, era alguém de baixa relevância, que num contexto plausível não carregaria de modo algum documentos supersecretos.
A mala que o acompanhou também foi montada propositalmente com itens básicos: um molho de chaves, o recibo de compra de uma camisa nova, uma cartela de cigarros, o canhoto dos ingressos de um espetáculo teatral e até mesmo uma carta escrita por seu pai, além do aviso de cheque especial do banco. Tudo isso preenchido com tinta especial para não borrar na água.
À BBC, Bentley apontou que o sujeito até mesmo ganhou uma noiva. Tratava-se de Pam, que na vida real foi a oficial da inteligência britânica, Jean Lesley. “O nível de detalhes em que eles entraram foi incrível — eles até vestiram o suposto uniforme e peças íntimas de Martin para que parecessem roupas usadas na medida certa”.
Com todos os detalhes prontos, chegou o dia da missão. Martin foi levado até a Escócia e de lá navegou por mais 10 dias no submarino HMS Seraph antes de ser despachado no “ponto de entrega”. Com o cadáver nas águas, o impulso feito pelos motores do submarino o jogou até uma corrente que o empurrou à costa espanhola.
Assim, no dia 30 de abril de 1943, o cadáver de William foi encontrado por um pescador de sardinha perto da cidade de Huelva. Logo seus documentos falsos estavam sob a posse da inteligência militar alemã. Os arquivos diziam que os Aliados se preparavam para uma investida na Grécia. Hitler se convenceu das evidências.
Com o deslocamento das tropas do Eixo para conter o avanço falso dos Aliados, a invasão à Sicília começou. Cerca de um mês depois, em 10 de julho de 1943, a região foi tomada. A Itália fascista foi sendo dissolvida aos poucos e, em 28 de abril de 1945, o líder Benito Mussolini foi executado em praça pública. Hitler cairia apenas dois dias depois.
Com o sucesso da missão, que ajudou a encurtar a Guerra e, consequentemente, salvar centenas de vidas, o corpo de Glyndwr Michael acabou sendo enterrado em Huelva. Ele recebeu todas as honras militares pelo feito.
Fonte: Aventuras na História