Desemprego e déficit habitacional no Brasil são crônicos e urgentes
Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas desempregadas e 6 milhões de moradias em falta. Especialistas argumentam que a crise sanitária atual expôs um problema estrutural de desemprego e déficit habitacional no país
Por Iara de Andrade
O número de desempregados no Brasil hoje é de 10,1 milhões de pessoas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse dado, somado à distribuição do auxílio emergencial em menor valor e a falta de assistência aos mais vulneráveis durante na crise sanitária resulta na fome e a atual crise de habitação no país.
Mário Vieira, diretor executivo da Habitat Brasil, organização que atua há 30 anos com a promoção da moradia como direito fundamental e no combate às desigualdades, salienta que em um cenário onde faltam cerca de 6 milhões de moradias e outras 25 milhões inadequadas, das 40 milhões totais, a pandemia expôs uma urgência que sempre existiu no país:
“No pós-pandemia é importante que não deixemos de priorizar a questão do déficit habitacional, já que não temos uma política pública voltada para a questão da moradia, problema que sempre existiu no Brasil. Por isso, a Habitat busca atender a população que mais necessita desse trabalho”.
Em seu recente Relatório de Atividades, sobre 2021, a organização firmou parceria com dezenas de organizações da Campanha Despejo Zero para identificar famílias ameaçadas e divulgar informações sobre os despejos; articulou com defensorias e parlamentares para a suspensão de 44 ações de despejo.
O documento destaca o firmamento de novas alianças com demais entidades que atuam na defesa do direito à cidade, por meio da participação no Fórum Nacional de Reforma Urbana e na ampliação de sua presença em demais conferências que discutem o direito à água e saneamento, visando fortalecer a defesa de políticas públicas relacionadas.
Fome e desemprego
O professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador associado do Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo, Rogério Jerônimo Barbosa, participou do programa de rádio Brasil ODS com o tema Desemprego e vulnerabilidade, do Observatório do Terceiro Setor, e falou sobre como enxerga o cenário do desemprego no país:
“Sem dúvida nenhuma, é o desemprego o maior responsável pelo aumento da pobreza e da fome no Brasil. E mesmo que continuássemos pagando auxílios generosos, eles não substituem a renda do trabalho”.
Thiago Gehre Galvão, coordenador do programa estratégico sobre Sustentabilidade e Desenvolvimento Inclusivo da Universidade de Brasília (UNB 2030) e membro do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil pela Agenda 2030, também participou da conversa e complementa:
“Há, na verdade, um contexto mais estrutural que se conecta a esse contexto conjuntural pandêmico e de tentativa de recuperação que vai aprofundar muito todos os problemas enfrentados, particularmente, uma oportunidade para pensarmos não apenas no pleno emprego e ampliação da produtividade, mas em postos de trabalho dignos para a população brasileira”.