Educação popular além das fronteiras: legado de Paulo Freire no exterior
Da Finlândia à África do Sul: as homenagens a Paulo Freire, o educador brasileiro que lutou pelos direitos humanos
Por Julia Bonin
Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire completaria 101 anos neste mês. O educador pernambucano é autor do método de educação popular, que valoriza as realidades culturais de cada povo durante o processo de aprendizagem. Suas obras são referência no mundo todo para projetos de educação e saúde; existem institutos com seu nome e dedicados a estudar sua trajetória em países como Finlândia, Suécia, Estados Unidos, Áustria, Alemanha e África do Sul.
Centro Paulo Freire na Finlândia
Dona de um dos melhores sistemas educacionais do mundo, de acordo com avaliações do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), a Finlândia compartilha algumas ideias com o pedagogo brasileiro. Assim como Paulo Freire, o sistema educacional finlandês é construído em torno da ideia que o acesso à educação de qualidade está intimamente ligado à justiça social e política em uma relação de codependência – sem um, não existe outro.
Fundado em 2007, o Centro Paulo Freire da Finlândia atende uma demanda de interessados pelo pensamento do escritor no país. Dois anos antes, uma editora nacional traduziu a obra “Pedagogia do Oprimido”, tornando-a popular. O centro promove pesquisas, projetos e atividades de ensino, colabora com professores, educadores e trabalhadores culturais e organiza eventos como debates nacionais e internacionais.
Instituto Paulo Freire na UCLA nos Estados Unidos
O Instituto Paulo Freire foi fundado em 1991, originalmente, em São Paulo, com o intuito de ampliar e elaborar as teorias da educação popular. Atualmente, a sede do programa fica na Universidade de Los Angeles, na Califórnia, dentro da Escola de Educação e Estudos de Informação, onde arquivos de Freire são mantidos. Além dos Estados Unidos, também existem projetos em mais de 90 países.
A organização busca reunir acadêmicos e críticos do trabalho de Freire visando manter um diálogo permanente para promover o avanço de novas teorias e invenções concretas do mundo real. Por reunir uma grande quantidade de arquivos com estudos do pedagogo, o instituto disponibiliza em seu site posts acadêmicos e conteúdos em vídeo para aqueles que desejarem aprender mais sobre os métodos usados pelo patrono da educação brasileira.
Monumento na Suécia
A simbólica estátua que homenageia Paulo Freire e outras seis personalidades fica em Estocolmo, na Suécia, país conhecido por sua tradição democrática e progressista. Feita entre 1971 e 1976, época em que a obra “Pedagogia do Oprimido” foi publicada, a homenagem ao educador foi justificada pela autora com a afirmativa de que ele foi uma figura mundial relevante daquele tempo. O legado de Freire é muito respeitado nos países nórdicos.
“Depois do banho” (Efter badet) fica na periferia de Estocolmo e foi projetada no formato de um banco decorativo, onde as pessoas podem sentar no colo dos pensadores. As outras figuras homenageadas pelo monumento são a sexóloga Elise Ottesen-Jensen, a ativista Angela Davis, o poeta Pablo Neruda, a escritora Sara Lindman, o cientista Georg Borgström.
Revere High School nos Estados Unidos
Reconhecida como a melhor escola pública de ensino médio dos Estados Unidos, a Revere High School adota os métodos propostos pelo brasileiro Paulo Freire. O diretor da escola, Lourenço Garcia, era um grande admirador da proposta freireana e decidiu adotar iniciativas no colégio.
O perfil dos estudantes é diverso, incluindo aqueles que não falam inglês ou que sofrem bullying, a metodologia de Freire é uma boa proposta para acolher e promover o respeito entre os adolescentes. O engajamento do aluno, a relação das pessoas dentro da sala de aula, a educação centrada no aluno e o ensino personalizado fazem parte do método do patrono da educação brasileira que foi implantado na escola de Massachusetts.
Centro Paulo Freire na Áustria
O centro que recebe o nome do pedagogo em Viena foi fundado com o objetivo de promover políticas de desenvolvimento nas universidades austríacas. O centro oferece um espaço para reflexão e debates políticos, considerando a prática – tanto ação quanto reflexão – uma parte fundamental cujo objetivo é a abolição da opressão. O acesso ao conhecimento e a classificação deste como uma propriedade pública, fazem parte dos fundamentos do projeto.
Dentre os objetivos do Centro Paulo Freire estão:
- A educação como consequência da prática – incentivo da alfabetização política e econômica;
- A politização da Cooperação para Desenvolvimento da Áustria – em favor de políticas de apoio a grupos oprimidos e desfavorecidos;
- Organizar o diálogo entre pesquisa e prática – encorajamento novas práticas de pesquisa, ensino e aprendizagem.
Universidade de KwaZulu na África do Sul
Durante a década de 1970, Paulo Freire inspirou lutas populares na África do Sul que levaram a ao fim do apartheid. O Movimento da Consciência Negra foi realizado com a ajuda de projetos de educação de trabalhadores influenciados pelas ideias freirianas.
Em um projeto educacional, os trabalhadores foram encorajados a refletir sobre suas experiências cotidianas, pensar o que poderiam fazer sobre a sua situação e como agir para mudar o mundo. Além disso, outros projetos pedagógicos foram liderados por estudantes de esquerda dentro e em torno da União Nacional de Estudantes Sul-Africanos, principalmente, com posicionamentos contrários à separação racial.
Comissões de Salários também foram criadas na Universidade de KwaZulu-Natal, que, inspiradas pelas ideias do educador brasileiro, contaram com o apoio de estudantes e sindicalistas mais velhos. Apesar de proibido durante o apartheid, o livro “Pedagogia do Oprimido” continuou circulando por métodos underground.
Além dos projetos citados, o Paulo Freire foi homenageado em ao menos 35 universidades, nacionais e internacionais, como a Universidade de Genebra, a Universidade de Estocolmo, a Universidade de Massachusetts e a Universidade de Lisboa. Em 1986, Paulo Freire recebeu o prêmio Educação pela Paz, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (Unesco).