Empatia: chimpanzés aplicam remédios uns nos outros
Pesquisadores observaram grupo de chimpanzés em um parque no Gabão, e registraram dezenas de casos de animais usando insetos para tentar curar feridas de companheiros. Esse comportamento de um animal aplicando medicação nas feridas de outro nunca havia sido observado e pode ser um sinal de tendências de ajuda e suporte, que são semelhantes à empatia em humanos
A principal distinção entre chimpanzés e humanos pode estar na expressão de genes em proteínas, sobretudo no cérebro. As duas espécies de primatas, no entanto, compartilham cerca de 99% do código genético. A empatia, sentimento relacionado sempre aos humanos, também foi vista em um grupo de chimpanzés.
Pela primeira vez, chimpanzés foram vistos capturando insetos e os colocando em suas próprias feridas, bem como nas feridas dos outros, possivelmente como forma de medicação.
Esse comportamento de um animal aplicando medicação nas feridas de outro nunca havia sido observado antes e pode ser um sinal de tendências de ajuda e suporte apresentadas pelos chimpanzés, que são semelhantes à empatia em humanos, de acordo com um novo estudo.
Os pesquisadores testemunharam vários casos desse comportamento em uma comunidade de, aproximadamente, 45 chimpanzés no Parque Nacional Loango, no Gabão, como parte do Projeto Chimpanzé Ozouga.
O objetivo do projeto, liderado pelo primatologista Tobias Deschner e pela bióloga cognitiva Simone Pika, é estudar as relações e interações entre os chimpanzés, como eles caçam, usam ferramentas, comunicam e exercitam suas habilidades cognitivas. Os resultados foram publicados na segunda-feira (07/02), na revista Current Biology.
Ursos, elefantes e até abelhas já são conhecidos por se automedicarem contra parasitas e doenças.
A descoberta foi feita inicialmente quando a voluntária do projeto Alessandra Mascaro assistiu a uma interação entre uma mãe chimpanzé, Suzee, e seu filho Sia, em 2019. Sia estava com um pé machucado e Suzee parecia estar cuidando dele.
“Percebi que ela parecia ter algo entre os lábios que ela aplicou no ferimento no pé de Sia”, disse Mascaro em nota. “Mais tarde naquela noite, eu assisti novamente aos meus vídeos e vi que Suzee estendeu a mão para pegar algo que ela colocou entre os lábios e depois diretamente na ferida aberta no pé de Sia”.
Cerca de uma semana depois, isso aconteceu novamente enquanto a estudante de doutorado Lara Southern observava o chimpanzé adulto Freddy fazendo algo semelhante. A equipe supôs que os chimpanzés estavam capturando pequenos insetos voadores que estavam no ar.
Ao longo do ano seguinte, os pesquisadores observaram e filmaram de perto todos os chimpanzés que tinham sinais de ferimentos e registraram 22 chimpanzés aplicando insetos em suas próprias feridas.
Em 15 meses, a equipe catalogou 76 casos de chimpanzés usando insetos em suas feridas e nas feridas de outros, de novembro de 2019 a fevereiro de 2021.
Cuidar dos outros é um comportamento pró-social ou positivo que visa ajudar os outros – algo que não é frequentemente observado em animais.
“Para mim, isso é de tirar o fôlego, porque muitas pessoas duvidam das habilidades pró-sociais em outros animais”, disse Pika, autora do estudo e professora de biocognição comparativa no Instituto de Ciências Cognitivas da Universidade de Osnabrück, na Alemanha. “De repente, temos uma espécie em que realmente vemos indivíduos cuidando dos outros”, conclui.
Fonte: CNN Brasil