Epidemia de violência nas escolas: mais de 20 pessoas presas por dia e 756 perfis removidos das plataformas digitais
O canal exclusivo para recebimento de informações de ameaças e ataques contra as escolas, chamado de “Operação Escola Segura”, já recebeu 7.473 denúncias; o Instituto Sou da Paz chama atenção para o papel das políticas públicas no combate à violência
Por Suevelin dos Santos
Em levantamento do Instituto Sou da Paz sobre violência e ataques a escolas com uso de armas de fogo mostra que, nos últimos vinte anos, até 04 de abril de 2023, foram 12 casos que causaram 34 mortes e 59 vítimas não fatais. Já os ataques em escolas com o uso tanto de armas brancas quanto de fogo, no mesmo período, somaram 23, dez deles só nos últimos oito meses, segundo um estudo em andamento do Grupo de Ética, diversidade e democracia na escola pública, do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp.
Nesta terça-feira (18), com a participação de ministros, governadores e chefes de outros Poderes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma reunião no Planalto para discutir ações de enfrentamento à violência nas escolas. Segundo informações apresentadas pelo ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasi, Flavio Dino, vivemos a ascensão da violência e do ódio.
– Em 10 dias, 225 pessoas presas ou menores apreendidos – isso significa mais de 20 prisões por dia;
– 756 remoções ou suspensão de perfis em plataformas de redes digitais, dedicados a difundir ódio;
– 100 pedidos de preservação de conteúdo para aparatar investigações em curso nas polícias civis e federal;
– 377 solicitações de cadastros para investigações;
– 694 intimações de adolescentes suspeitos no geral para prestar depoimentos em delegacia;
– 155 buscas e apreensões realizadas.
“Isso mostra que estamos diante de uma epidemia. Temos 1.595 boletins de ocorrência em 10 dia, são 1224 casos e investigação em todo território nacional. Tivemos caso ontem em Rondônia, na Amazônia brasileira, por tanto não é algo circunscrito à uma região, é algo nacional. Não são casos isolados, é uma rede criminosa”, declarou o ministro Flávio Dino ao apresentar as informações do canal do governo federal que é exclusivo para recebimento de informações de ameaças e ataques contra as escolas, chamado de “Operação Escola Segura”; ativo desde 06 de abril, já recebeu 7.473 denúncias.
Cultura de Paz nas escolas
De acordo com Carolina Ricardo, diretora executiva do Instituto Sou da Paz, e Danielle Tsuchida, coordenadora de projetos, em artigo de opinião publicado, duas questões recorrentes entre os autores dos ataques são o relato bullying e a subcultura de ódio que incentiva à violência, criada nos ambientes digitais. Essa subcultura, aliada à mudança na sociabilização de crianças e jovens, muito mais mediada pelo mundo digital, coloca um novo desafio para família, escola e estado: como supervisionar e apoiar esse uso da internet de forma a torná-lo mais saudável e minimizar o risco de envolvimento nessa cultura violenta, com incitações ao racismo, homofobia, misoginia e intolerância religiosa.
Ressaltando a urgência para que esse tema seja tratado por políticas públicas, assim como a regulamentação das plataformas digitais onde crianças e jovens se encontram, conversam, idolatram discursos extremistas e planejam possíveis ataques, Carolina sugere estratégias de prevenção de novos casos.
“As escolas precisam ter condições de atuar a partir de relações construídas na base da cooperação e empatia e profissionais com capacidade de lidar com questões de saúde mental. Para isto, a presença do estado é fundamental para investir na qualidade do ensino com formação, remuneração justa e contratação de mais profissionais. É necessário que este trabalho se dê em rede, mobilizando as áreas da saúde e assistência social”, diz.
O Instituto Sou da Paz é uma organização não governamental que atua há vinte anos para reduzir a violência no Brasil e preservar vidas. Busca contribuir com diagnósticos que aperfeiçoem as políticas por meio de pesquisas aplicadas para melhor compreender algumas realidades e assim ter condições de propor intervenções.
O combate à violência nas escolas contribui para alcanças os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o cumprimento da Agenda 2030, especialmente a ODS 4, com metas relacionadas à educação de qualidade.