Escravizados comiam sobras em abrigo de animais em Limeira, SP
Três pessoas em situação análoga à escravidão foram resgatadas em um abrigo de animais em Limeira (SP). Segundo a fiscalização, os escravizados comiam sobras deixadas pelos 170 cães e gatos que viviam no local
Por: Juliana Lima
Escravizados foram resgatados de um abrigo de animais na Chácara Barra Verde, zona rural de Limeira, município a 150 quilômetros da cidade de São Paulo. Segundo a fiscalização, três pessoas foram encontradas no local junto a cerca de 170 cães e gatos. “Os animais estavam em boas condições, já os seres humanos não”, disse o auditor fiscal do Ministério do Trabalho Paulo Warlet, que coordenou a ação. Ainda segundo os fiscais, as pessoas se alimentavam com sobras da comida dos animais.
“O que mais constrangeu do ponto de vista humanitário era um balde com miúdos de porco para alimentar animais, pois os trabalhadores comiam dos restos desse balde por causa da fome”, afirmou Warlet. Os alimentos ficavam próximos a equipamentos de aplicação de agrotóxicos, sob risco de contaminação. Além disso, os alojamentos onde os escravizados ficavam eram sujos, não tinham chuveiro e a instalação elétrica corria risco de incêndio.
Os três trabalhadores cuidavam dos animais sem carteira de trabalho assinada ou equipamentos de proteção e higiene. Segundo a fiscalização, eram pessoas simples a quem foram prometidas boas condições de alojamento e uma remuneração justa, uma prática comum no aliciamento do trabalho escravo moderno.
O trio era formado por um casal de irmãos de Piracicaba, que trabalhava no local há cerca de um ano e meio, e uma outra mulher, que era do Ceará e atuava no abrigo há um ano. Segundo os profissionais que os resgataram, os três demonstraram muito medo dos empregadores e disseram que ouviram com frequência que os animais eram mais importantes do que eles.
Eles não recebiam salário e trabalhavam em troca de moradia, pois dependiam de arroz, feijão e óleo vindos de uma igreja próxima da Chácara para se alimentar. Como a proprietária do abrigo não permitia que os escravizados saíssem de lá, eles pediam esmolas à noite.
A operação de resgate começou no início de dezembro. Além do pagamento de três parcelas de um salário mínimo cada, referentes ao seguro desemprego, o casal de irmãos receberá R$ 100 mil e a mulher, R$ 65 mil, como reparo aos danos morais individuais. Os proprietários da Chácara também custearão o hotel e a volta para casa dos escravizados, assim como terão que destinar outros R$ 35 mil ao Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (Cami), que atua com vítimas da escravidão e do tráfico de pessoas, como forma de reparação aos danos morais coletivos.
Os trabalhadores estão sendo acompanhados pela Assistência Social de Limeira e o Ministério Público do Trabalho informou as autoridades locais para que acompanhem a situação dos animais da Chácara.
Fonte: UOL