Esgotadas: relatório mapeia a saúde mental das mulheres no Brasil
O relatório ‘Esgotadas’ da Think Olga expõe a crise na saúde mental das mulheres brasileiras, destacando impactos da pandemia, desigualdades de gênero e estratégias essenciais para enfrentar desafios emergentes.
Por Redação
A saúde mental das mulheres brasileiras enfrenta desafios significativos, agravados pela pandemia da COVID-19. Antes mesmo do surto, mais de um bilhão de pessoas lidavam com transtornos mentais, sendo mais da metade mulheres. Esses dados foram produzidos pela organização Think Olga, em seu relatório “Esgotadas”, que expõem que a crise sanitária exacerbou as desigualdades já existentes, especialmente para as mulheres negras, que historicamente enfrentam maior sofrimento nessas condições.
A pesquisa revelou que a falta de dinheiro, sobrecarga e insatisfação no trabalho são as principais causas apontadas por mulheres em situação de vulnerabilidade. Mesmo diante desses desafios, há uma conscientização crescente sobre a importância da saúde emocional, com 91% das entrevistadas reconhecendo a seriedade do tema.
“Observamos a partir de nossas interações com as mulheres, na nossa própria vida quotidiana, alguns sintomas desse esgotamento mental e essa necessidade de buscar alternativas; durante a pandemia a sobrecarga do cuidado e as dificuldades financeiras acabaram sendo muito acentuadas.” afirma Maíra Liguori, diretora das organizações Think Olga e Think Eva.
O cenário global pré-pandemia já demonstrava disparidades de gênero, com mulheres representando a maioria dos casos de ansiedade e depressão, aponta o relatório. A COVID-19 intensificou essa realidade, resultando em um aumento significativo de novos casos entre as mulheres. Além das questões financeiras, o trabalho de cuidado, frequentemente invisibilizado, exerce uma pressão adicional, destacando a necessidade de abordagens mais holísticas na promoção da saúde mental.
O trabalho de cuidado, mal remunerado e invisibilizado, impacta negativamente na saúde mental, destaca a pesquisa. Mulheres dedicam o dobro de tempo aos cuidados; 57% das mulheres de 36 a 55 anos cuidam de alguém.
“O objetivo principal foi abrir este diálogo sobre a saúde mental das mulheres e demonstrar que isso sempre foi uma questão, para além da pandemia, como mostra o dado que 7 em cada 10 pessoas diagnosticadas com depressão ou ansiedade são mulheres, então esse número pré-pandêmico já mostrava que esta questão já não ia bem”, disse a diretora.
A pesquisa, que entrevistou 1.078 mulheres de todas as classes e regiões do país também revela a influência de estruturas de opressão, como machismo e racismo, na saúde mental das mulheres, 26% relatam impacto negativo na saúde mental devido a padrões de beleza irreais e o medo constante de violência afeta 16% das entrevistadas. Dentro das estratégias de cuidado, cerca de 40% praticam atividades físicas, 37% praticam espiritualidade, e 35% passam tempo com família e amigos. Apenas 15% fazem terapia ou análise. Nesse contexto, 54% das entrevistadas considera as instituições governamentais responsáveis pela saúde mental, destacando a urgência de abordagens coletivas e políticas para enfrentar esse desafio complexo.
“Consideramos esse relatório um ponto de partida, para inaugurar esta conversa, provocar os agentes de mudança que precisam ser estimulados a atuarem para que as mulheres possam viver melhor, possam desfrutar de um bem estar psíquico. O ponto de virada é exatamente isso”, finalizou Maíra.
A pesquisa “Esgotadas” revela um cenário de risco que chama atenção às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda ONU, especificamente as ligas a erradicação da pobreza (ODS 1), igualdade de gênero (ODS 5) e saúde mental (ODS 3).
Maíra Liguori é jornalista formada pela PUC-SP, com pós-graduação em comunicação estratégica e em ciências da religião, em Barcelona. Também é mãe e diretora na consultoria Think Eva e na ONG Think Olga. Ambas as organizações promovem soluções para as questões de gênero e intersecções tendo como ferramenta a comunicação. Por seu trabalho nas organizações Think Olga e na Think Eva foi bi-campeã do prêmio WEPs, da ONU Mulheres, indicada ao Prêmio Caboré (2021) e finalista do Troféu Mulher Imprensa (2023). Em 2017, foi eleita uma das 100 mulheres mais inovadoras do mundo pela BBC de Londres e em 2022 foi escolhida pelo Meio & Mensagem como uma das pessoas que estão mudando o jogo no mercado de comunicação.