Esquecidos: ciganos também foram perseguidos e mortos pelos nazistas
Aproximadamente 11 milhões de pessoas foram mortas pelo regime nazista e 5 milhões dos assassinados não eram judeus. Historiadores estimam que 250 mil a 500 mil ciganos foram assassinados durante o Holocausto, mas, infelizmente, essas vítimas permanecem em grande parte esquecidas.
Aproximadamente 11 milhões de pessoas foram mortas pelo regime nazista, e 5 milhões dos assassinados não eram judeus. Historiadores estimam que 250 mil a 500 mil ciganos foram assassinados durante o Holocausto, mas, infelizmente, essas vítimas permanecem em grande parte esquecidas.
Os nazistas acreditavam que os alemães eram arianos, uma “raça superior”. Algumas pessoas eram consideradas indesejáveis pelos padrões nazistas por suas origens genéticas, culturais ou por condições de saúde. Entre os grupos assim considerados estavam judeus, ciganos, poloneses e outros eslavos, além de pessoas com deficiências físicas ou mentais.
As vítimas incluíam ainda Testemunhas de Jeová, homossexuais, clérigos dissidentes, comunistas, socialistas, “associais” (um termo usado pelos nazistas para categorizar pessoas que não se conformavam com suas normas sociais) e inimigos políticos.
“Por que eles queriam nos matar? Por que nos mataram?”, indaga Hinta Gheorghe, cigano e sobrevivente do Holocausto de 83 anos.
Aos dois anos de idade, durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi levado para um campo de concentração na Transnístria, uma área entre os rios Dniester e Bug. O campo foi administrado pelo Reino da Romênia entre 1941 e 1944.
“Não tenho muitas lembranças da viagem em si, mas ela deixou marcas em toda a minha existência”, disse Gheorghe.
“Minha mãe perdeu filhos durante a viagem em veículos usados para transportar gado. Acho que parte dela ficou para sempre ali, mesmo depois de longos anos”, conta Gheorghe.
“Nós entendemos o que estava acontecendo no campo antes mesmo de chegarmos lá. Muitos morreram no caminho.”
O “Escritório Central de Combate ao Problema Cigano”, em Munique, foi criado em junho de 1936 pelos nazistas. O órgão foi encarregado de “avaliar os resultados de pesquisas raciais-biológicas” sobre os ciganos.
Em 1938, ciganos dos grupos Sinti e Roma passaram a ser enviados para campos de concentração.
Como os judeus, os ciganos foram privados de seus direitos civis. As crianças foram banidas das escolas públicas e os adultos tiveram cada vez mais dificuldade de garantir um emprego.
Os ciganos que haviam se estabelecido na Alemanha foram perseguidos por séculos. O regime nazista continuou a perseguição, vendo essas pessoas como antissociais e racialmente inferiores aos alemães.
“Ninguém se importava conosco, mas, ao mesmo tempo, eles nos odiavam muito”, lembra Gheorghe.
Em 1943, uma grande área do campo Auschwitz-Birkenau foi designada para os ciganos. O número de detidos é estimado em cerca de 23 mil. Muitos se tornaram vítimas de experimentos médicos; outros morreram de exaustão ou foram mortos nas câmaras de gás.
O campo foi dissolvido em agosto de 1944. Muitos de seus prisioneiros foram assassinados ou transferidos para outros campos. Ao fim, pelo menos 21 mil homens, mulheres e crianças foram mortos.
Quando Hinta Gheorghe e os sobreviventes de sua família retornaram do campo de extermínio após três terríveis anos, eles descobriram que suas casas na Romênia tinham sido destruídas ou tomadas por outra pessoa.
“Eles nos desumanizaram e o pior é que ainda nos privam da nossa história. Muitas crianças hoje em dia não fazem ideia do que aconteceu, mas escutam cantigas sobre o que ocorreu das avós, que choram enquanto cantam.”
“Nossas canções carregam o sofrimento, as condições insuportáveis e devastadoras dos campos. Sujeira, fome, frio, abrigos inadequados […], superlotação levando a doenças lentas e dolorosas”.
Imediatamente após a guerra, muitos nazistas importantes foram capturados e julgados por tribunais militares e pelo tribunal de Nuremberg. Nesses casos, ninguém foi acusado de matar um cigano.
Fonte: BBC Brasil