Falar sobre suicídio no Brasil demanda recorte de gênero, raça e classe
14 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos no país. De acordo com Ana Carolina Barros Silva, Coordenadora Geral do espaço de escuta e acolhimento voltado para mulheres negras, Casa de Marias, população negra é a mais impactada pelo problema de suicídio no Brasil
Por Iara de Andrade
Em 10 de setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Organizada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) e apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a data marca o compromisso global em chamar atenção para o problema.
Em junho deste ano, a Organização fez um alerta para o aumento em mais de 25% dos casos de depressão e ansiedade durante a pandemia e pediu urgência na transformação e atenção às questões da saúde mental.
Em seu relatório, a OMS conta que, no ano de 2019, uma a cada 100 mortes estavam ligadas ao suicídio. Somente no Brasil, 14 mil tiram a própria vida todos os anos.
Neste mês, conhecido como Setembro Amarelo, no qual acontecem campanhas de conscientização e prevenção ao suicídio, o Observatório do Terceiro Setor entrevistou Ana Carolina Barros Silva, Coordenadora Geral da Casa de Marias, espaço de escuta que promove serviços de cuidado à saúde mental focado em mulheres negras.
Ana Carolina destacou a importância dos recortes de gênero, raça e classe para falar sobre suicídio no Brasil, uma vez que o problema atinge com muito mais ênfase a população negra:
“Nós entendemos que isso é reflexo de toda uma estrutura socioeconômica que gera precarização na vida de pessoas negras produzindo adoecimento mental. Por isso, na Casa de Marias, temos um olhar especial para a saúde mental da população negra, atuando em prevenção e acompanhamento de pessoas que já estão adoecidas e possuem história de ideação ou tentativa de suicídio. Essa atuação está pautada em nossa inserção na rede de atenção psicossocial, pois acreditamos que esse trabalho, de alta complexidade, precisa do fortalecimento do SUS para gerar resultados efetivos”.
A Casa atua com serviço de emergência que acolhe mulheres em situação de grave sofrimento psíquico durante todo o ano, mas ressalta que durante o Setembro Amarelo costuma reforçar a campanha de informação e orientação em suas redes sociais.