Há 50 anos, a foto de uma menina de 9 anos chocava o mundo
No dia 8 de junho de 1972, uma foto tirada pelo fotógrafo Nick Ult chocava o mundo. Uma menina de apenas 9 anos gritava de dor por ter sido vítima de bombardeios de napalm na Guerra do Vietnã
No dia 8 de junho de 1972, a menina Kim Phúc, de apenas nove anos, e seus parentes fugiam da guerra em uma pequena vila do Vietnã do Sul quando um avião sul-vietnamita os confundiu com inimigos e atirou sobre a área bombas de napalm, o terrível composto à base de gasolina, criado por cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e que provoca queimaduras severas no corpo.
O país asiático vivia uma sofrida guerra desde a década de 1950 com o Vietnã do Norte, apoiado por China, União Soviética e outros países comunistas. O Vietnã do Sul era então apoiado pelos Estados Unidos e outros estados anticomunistas. Naquela quinta-feira de 1972, forças do Sul atacavam a vila de Trang Bang, onde vivia a menina Kim Phúc, e que havia sido recém-tomada por tropas do Norte.
O fotógrafo Nick Ult, de 21 anos, estava na Estrada 1, entre Saigon e Phnom Penh, registrando o bombardeio a uma distância segura. Quando percebeu civis correndo do vilarejo em chamas na sua direção, ele continuou acionando sua máquina. Uma daquelas pessoas em pânico era Kim. A menina de nove anos tinha rasgado as próprias roupas enquanto o napalm corroía sua pele. Aos prantos e nua, ela gritava: “Nóng quá! Nong quá” (“Muito quente! Muito quente!”).
Após registrar a cena, Nick Ult levou a menina para um hospital em Saigon, onde os médicos salvaram sua vida. Mas o ataque deixou graves sequelas. Kim só voltou para casa depois de 14 meses internada e 17 cirurgias, incluindo transplantes de pele. Ao sair do hospital, seus movimentos eram muito limitados, e ela sentia dores excruciantes que a acompanham até hoje. Suas costas e seu braço esquerdo continuam cobertos por cicatrizes, mesmo 50 anos depois.
Além de ter que lidar com as marcas e as dores das feridas, Kim jamais conseguiu se livrar dos impactos da foto de Ult em sua vida. Ela morria de vergonha da imagem, devido à exposição de sua nudez em um momento de pânico. Em um artigo recente publicado pelo jornal “The New York Times”, a vietnamita diz que ficou eternamente grata a Nick Ult por salvar sua vida, mas conta também que cresceu detestando sua fotografia.
Em 1997, a vietnamita criou a Kim Phúc Foundation, voltada para dar assistência física e psicológica a crianças vítimas de diferentes guerras. Com isso, ela deu um novo sentido à imagem de 1972. “A foto virou um presente muito poderoso porque me deu a chance de ajudar as pessoas”, disse Kim em uma entrevista recente. “Eu dediquei minha vida a ajudar crianças em sofrimento ao redor do mundo”.
Fonte: O Globo