Indígenas Yanomami produzem chocolate artesanal para sobreviver
Produção é resultado de uma oficina oferecida a membros da etnia Yanomami. O valor arrecadado com a venda dos chocolates é revertido de forma integral para os indígenas
Por: Mariana Lima
Para os indígenas da etnia Yanomami, o cacau é como um fruto dos deuses. Um alimento enviado para salvar os humanos da fome.
Em contrapartida, o chocolate foi criado pelos europeus, que não podem produzi-lo sem o fruto da floresta amazônica.
Pensando nesta questão, o chocolatier César De Mendes decidiu criar um chocolate exclusivo a partir do cacau da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Cada barra é vendida por R$ 50 e o valor volta integralmente para os indígenas.
Mas, além de produzir, o dono da fábrica “De Mendes” ensinou a receita às etnias do território com mais de 9 mil hectares, 26 mil indígenas e dividida entre oito povos.
O chocolatier ensinou os indígenas a concentrar o plantio do cacau em uma área específica para facilitar a colheita. Antes, era necessário organizar expedições para encontrar o fruto em cantos dispersos da floresta.
Já os indígenas o ensinaram a queimar tipos de plantas e galhos do chão próximos às árvores para liberar nutrientes no ar e estimular o crescimento saudável dos frutos.
Aproximadamente, 1.300 Yanomamis se beneficiam diretamente da produção e do dinheiro com os chocolates que levam o nome da etnia.
Em 2018, a oficina para a troca de sabres foi realizada e o produto final foi lançado em dezembro de 2019. Neste período, as ameaças permanentes contra os Yanomami foram intensificados com o garimpo ilegal.
De acordo com estimativas do Instituto Socioambiental (ISA), 20 mil garimpeiros invadiram a TI Yanomami em 2020. Os invasores também ampliam os riscos de contaminação de Covid-19 entre a população indígena.
Com a falta de testes, o número de suspeitas de contaminação pelo novo coronavírus entre os Yanomami oscila entre 900 e 1.050 contaminados. Os mortos variam entre 7 e 12 pessoas.
Quem compra o chocolate produzido pelos Yanomami também recebe um material didático com a história do povo em Roraima.
Os chocolates são vendidos apenas pela internet devido à baixa produção, uma vez que é totalmente artesanal. No lugar do açúcar, como na receita do chocolate, a produção dos Yanomami utiliza a rapadura.
Fonte: ECOA | UOL