Junta militar executa 4 ativistas pró-democracia no Mianmar
A junta militar de Mianmar executou quatro prisioneiros, incluindo um ex-deputado, todos ativistas pró-democracia.
A junta militar de Mianmar executou quatro prisioneiros, incluindo um ex-deputado do partido da ex-líder Aung San Suu Kyi, marcando a primeira aplicação da pena de morte no país em décadas. Todos ativistas pró-democracia.
De acordo com o veículo, as execuções aconteceram “sob o procedimento prisional”, sem detalhar quando, ou como morreram.
Phyo Zeya Thaw, de 41, ex-parlamentar do partido Liga Nacional para a Democracia (NLD, na sigla em inglês) de Aung San Suu Kyi, foi preso em novembro passado e condenado à morte em janeiro deste ano por violar a lei antiterrorismo.
Este pioneiro do hip hop birmanês, cujas letras criticavam o Exército desde o início dos anos 2000, esteve detido em 2008 por pertencer a uma organização considerada ilegal no país e por posse de moeda estrangeira. Obteve uma cadeira como deputado nas eleições de 2015, durante a transição do regime militar para o civil.
A junta acusou-o de ter orquestrado vários ataques contra o regime, incluindo um contra um trem em agosto passado, em Yangon. Cinco policiais morreram.
Kyaw Min Yu, conhecido como “Jimmy” e um destacado ativista pró-democracia de 53 anos, recebeu a mesma sentença do tribunal militar. “Jimmy” era escritor e um opositor de longa data do Exército. Teve um papel importante na revolta estudantil de 1988 contra a junta militar da época. Foi preso em outubro e recebeu sua sentença em janeiro.
Os outros dois réus foram condenados à morte pelo assassinato de uma mulher que, segundo eles, era uma informante da junta em Yangon. Nenhum dos crimes citados pela junta foram confirmados.
A junta militar condenou dezenas de ativistas antigolpe à morte como parte de sua repressão à dissidência depois de tomar o poder no ano passado.
Os Estados Unidos condenaram as execuções, que incluíram um proeminente ativista pró-democracia.
A ONG Human Rights Watch classificou as execuções como “um ato de extrema crueldade”. A diretora da ONG para a Ásia, Elaine Pearson, pediu à comunidade internacional que “mostre à junta que haverá responsabilização por seus crimes”.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou a decisão, chamando-a de “flagrante violação do direito à vida, à liberdade e à segurança das pessoas”.
As quatro execuções anunciadas na segunda-feira são “um ato escandaloso” que “criará ondas de impacto político, agora e por muito tempo”, reagiu no Twitter Richard Horsey, especialista em Mianmar do International Crisis Group (ICG).
Os militares continuam a impor uma repressão sangrenta contra seus oponentes. Segundo uma ONG local, são mais de 2.000 civis mortos e mais de 15.000 detidos desde o golpe. Entre os presos, está Aung San Suu Kyi, de 77 anos, ex-líder e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz. Ela enfrenta várias acusações na Justiça, cujas sentenças, em seu conjunto, podem totalizar até 150 anos de prisão.
O Departamento de Estado dos EUA disse que não pode haver “negócios como de costume” com os militares governantes de Mianmar após a execução dos quatro ativistas da democracia, acrescentando que estava considerando novas medidas para punir a junta. A União Europeia criticou as execuções por razões políticas.
O relatório Variações da Democracia (V-Dem), ligado à Universidade de Gotemburgo, na Suécia, publicado em março deste ano, apontou que o Brasil foi o quarto país que mais se afastou da democracia em 2020, em um ranking de 202 países analisados.
O Observatório do 3º Setor falou sobre democracia e direitos humanos, no programa Olhar da Cidadania, com a participação da professora do Departamento de Antropologia da USP Ana Lúcia Pastore e o advogado, fundador e reitor da Universidade Zumbi dos Palmares José Vicente. Clique aqui para ouvir.
Fonte: g1