Livreiro das ruas que teve livros queimados recebe o triplo em doações
Como ambulante, Odilon Tavares vendia livros no centro de Belo Horizonte há três anos. Na última semana de junho, um homem desconhecido queimou todas as suas obras
Por: Mariana Lima
Apesar de só ter estudado até a quarta série do ensino fundamental, Odilon Tavares, de 58 anos, passou os últimos três anos rodeado por livros na avenida do Contorno, no bairro Carmo, localizado na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
Os livros de Odilon ficavam organizados na calçada, à espera de pessoas interessadas em comprá-los. O sebo improvisado na calçada já fazia parte do cotidiano de quem passava na região.
No entanto, no último final de semana do mês de junho, um homem – ainda não identificado – destruiu pelo menos 3 mil livros ao atear fogo nas produções. Odilon deixa os livros empacotados próximos do local em que monta a sua “banca”, mas quando chegou para trabalhar encontrou apenas fuligem.
Nestes três anos, ele não havia passado por situações como essa, tendo confiança na população local. Mas nas últimas semanas sofreu seu primeiro assalto no posto de trabalho ao ter 5 mil exemplares roubados.
Em meio a perdas dolorosas, Odilon alcançou uma rede de solidadriedade que, através da mobilização nas redes sociais, conseguiu reerguer o negócio com doações de novas obras. Em pouco mais de 48 horas, o novo acervo chegou a 10 mil livros.
Odilon começou a reunir livros por meio da reciclagem, encontrando-os no lixo enquanto buscava por materiais. Como não sabia o valor dos livros no mercado, Odilon passou a comercializá-los pelo preço único de R$ 5 para cada unidade. O grande sucesso em seu sebo continua sendo ‘Harry Potter’.
Além dos problemas recentes, Odilon precisou lutar para ficar no mesmo lugar e vender seus livros. Há dois anos, fiscais da Prefeitura tentaram tirá-lo de seu ponto e apreenderam as obras.
Mas Odilon já era conhecido, e a ação teve uma repercussão negativa. Assim, a fiscalização voltou atrás e manteve os livros à venda nas calçadas, embora o próprio livreiro reconheça que a ação de vendê-los seja considerada uma atividade contra a lei.
O livreiro e ambulante viveu nas ruas após a separação com a ex-esposa, mas no momento do incêndio estava na casa em que vive com o restante da família. Ele estava retornando ao trabalho após se isolar contra a pandemia de Covid-19.
A rotina de trabalho era de segunda a sexta, mas com o aumento das doações se estendeu também os finais de semana. Enquanto estava isolado, Odilon contou com o valor recebido do auxílio emergencial.
Em entrevista ao UOL revelou que, ao ver a cena do incêndio, não entrou em desespero. “Não senti nem raiva, nem tristeza. Eu vivo o hoje. Mas quem botou fogo nos livros deve ser alguém que não gosta de cultura”.
Fontes: ECOA – UOL | O Tempo