Maquiadora cria projeto para capacitar mulheres cis e trans no cárcere
O desejo em promover um trabalho social fez com que a maquiadora Juliana Zaroni levasse os pincéis e as maquiagens para dentro das prisões
Por: Mariana Lima
Apesar da formação em Jornalismo, Juliana Zaroni, 43, consolidou sua carreira profissional em uma atividade que considerava um hobby. Como maquiadora, Zaroni deu vazão ao seu desejo de realizar um projeto social.
Observando o cenário das mulheres travestis e trans no sistema carcerário brasileiro, em 2019, criou o seu primeiro projeto, o Beleza no Cárcere. A proposta era promover um aumento da autoestima das mulheres presas, enquanto recebiam a capacitação para o mercado de trabalho.
O trabalho realizado pelo projeto buscava preparar as participantes para a liberdade e oferecer subsídios para geração de trabalho e renda, dando as ferramentas para a quebra do ciclo de violência e reincidência.
As práticas não se limitam aos ensinamentos ligados à maquiagem, mas tratam também de questões relativas a cidadania, diversidade e direitos humanos.
O curso tem a carga horária de 60 horas e é ministrado em até 6 meses. Vale ressaltar que a periocidade das aulas, assim como os dias da semana e a duração de cada encontro, é decidido em acordo com a direção da unidade prisional que é escolhida em conjunto com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP).
No total, cada encontro dura, em média, quatros horas, sendo dividido em 3 partes: atividades técnicas, socioeducativas e práticas.
A iniciativa é realizada com a colaboração de maquiadores profissionais voluntários e doações de itens de maquiagem.
A penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos (SP), formou o primeiro grupo da iniciativa. Eram 24 alunos, mas, devido a motivos diversos, como soltura, transferências e afastamentos por saúde e disciplina, apenas 7 se formaram. A meta agora é aplicar o projeto para mulheres cis e menores da Fundação Casa.
Os resultados positivos da iniciativa motivaram Zaroni a estruturar um novo projeto: o Pinceladas de Liberdade. A proposta é profissionalizar as mulheres cis e trans egressas do sistema prisional e auxiliá-las na inserção do mercado de trabalho.
O projeto foi incentivado por uma das alunas do Beleza no Cárcere, que conseguiu a liberdade antes de terminar o curso. O novo projeto permite que a profissionalização ocorra fora do espaço carcerário, focando na troca de experiências, humanização, apoio, cidadania e direitos humanos.
Contudo, o projeto ainda aguarda apoio financeiro e de marcas do setor que possam colaborar com produtos, conhecimento técnico e vagas de emprego.