Médico que ajuda na recuperação de viciados é preso na Cracolândia por estar vestido de palhaço
Uma fotografia do psiquiatra Flávio Falcone, 42, viralizou no último dia 02/09 após ser detido na ‘cracolândia’, no centro de São Paulo. O motivo? Flávio estava fantasiado de palhaço, realizando um trabalho com viciados para ajudar na libertação do vício das drogas.
A ação aconteceu na chamada “cracolândia”, local no centro da cidade de São Paulo, apelidado com esse nome por ter uma população em situação de rua composta, na sua maioria, por dependentes químicos e traficantes (principalmente de crack).
Flávio desenvolve o trabalho há mais de 10 anos. Com ajuda de doações, o médico afirma pagar estadia para oito usuários em pensões da região. O oferecimento de abrigo foi utilizado pela prefeitura no passado e dados da época mostram que 2 a cada 3 usuários reduziram o consumo de crack.
O abrigo dá a possibilidade de buscar um emprego e é parte da chamada “redução de danos”. Nesta abordagem, não são exigidas abstinência e tarefas obrigatórias mas, por meio da reinserção social, espera-se a diminuição e até o fim do uso abusivo de substâncias.
Segundo Flávio, dos oito ajudados, dois já estão abstêmios das drogas. Quem participa de ações do grupo, recebe um cachê de R$ 50 e, caso deseje, medicação contra os efeitos da abstinência.
A tática é a mesma do extinto programa Braços Abertos durante a prefeitura de Fernando Haddad, hoje candidato ao governo de São Paulo. A inspiração é o método canadense de “housing first”, ou “casa em primeiro lugar” para frear o uso abusivo. “Nas pensões, eles podem dormir e isso ajuda o tratamento. Na rua, eles descansam com um olho aberto e outro fechado”, afirma Flávio.
As sucessivas operações policiais na ‘cracolândia’ incentivaram os paulistanos a preferir uma abordagem diferente. Em 2016, o Datafolha mostrou que 69% da população era favorável ao Braços Abertos. Por outro lado, apenas 21% acreditava na eficiência da redução, que foi descontinuada e substituída pela prefeitura de João Doria (PSBD).
Desde junho de 2021, a Operação Caronte da Polícia Civil dispersou usuários pelo centro com a justificativa de prender traficantes. A polícia afirma ter prendido mais de 100 traficantes. Antes, o chamado fluxo era restrito às praças Júlio Prestes e Princesa Isabel, agora os usuários estão espalhados por todo centro da cidade.
Flávio afirma que os policiais ameaçaram prendê-lo novamente caso retome o trabalho nas ruas da ‘cracolândia’. Por enquanto, ele aguarda a decisão dos advogados para saber quando vai voltar às atividades.
Fonte: UOL