Mulher é resgatada após 32 anos de trabalho escravo no RN
Mulher de 48 anos vivia há 32 em situação de trabalho escravo como empregada doméstica para família de pastor no Rio Grande do Norte. Segundo investigação, ela também era vítima de violência sexual
Por Juliana Lima
Uma mulher de 48 anos foi resgatada após passar 32 anos em situação de trabalho escravo na casa de um pastor e de uma professora na cidade de Mossoró, na Região Oeste do Rio Grande do Norte. A mulher, que havia ido morar na casa dos empregadores quando tinha entre 15 e 16 anos, trabalhava como empregada doméstica da família. Segundo a investigação, ela era responsável por cuidar da casa, fazer limpeza, cozinhar, lavar roupa e cuidar dos quatro filhos do casal, hoje já adultos.
A mulher não recebia remuneração nem qualquer direito trabalhista e, de acordo com a auditora fiscal do Ministério do Trabalho e Previdência responsável pelo caso, possuía “alguma noção” de que estava sendo explorada. Geraldo Braga da Cunha, o empregador da mulher, um pastor evangélico de classe média baixa, admitiu que já tinha sugerido à família o registro da trabalhadora porque “sabia que poderia ter problemas”.
Ainda de acordo com a investigação, a mulher também havia sido vítima de violência sexual do empregador por ao menos dez anos. A família alega que “o relacionamento era consensual”.
Em nota, a Assembleia de Deus de Mossoró disse que recebeu a informação com surpresa e “deixa bem claro que não comunga em nada com essas condutas denunciadas”. A Assembleia informou ainda que afastou o presbítero preventivamente e abriu procedimento administrativo disciplinar para apurar os fatos.
O caso será levado para a Justiça Federal pelo crime de redução a condição análoga à escravidão e também para a Justiça do Rio Grande do Norte pelo crime de violência sexual. Segundo cálculos do Ministério Público do Trabalho, a família deve à trabalhadora cerca de R$ 88 mil referentes às verbas rescisórias dos últimos cinco anos, além de R$ 200 mil por danos morais. Não é possível pedir as verbas referentes aos anos anteriores de serviço porque o caso prescreve na justiça. Segundo o Ministério Público do Trabalho, foi tentado um acordo com a família, que o recusou alegando não ter condições de arcar com os valores pedidos.
Só no Rio Grande do Norte, 54 trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão entre 2018 e 2021.
Fonte: G1