Negros e mulheres correm mais risco de morrer por Covid, revela estudo
Estudo mostra que desigualdades raciais e de gênero aumentam o risco de morte por Covid mesmo entre grupos com atividades profissionais que os colocam no topo da pirâmide social
Por: Mariana Lima
O risco de morrer de Covid-19 é consideravelmente maior para homens negros e mulheres brancas e negras do que para homens brancos no Brasil. É o que revela um estudo realizado por um grupo de pesquisadores ligado à Rede de Pesquisa Solidária, que reúne várias instituições públicas e privadas.
A análise de estatísticas oficiais sobre milhares de brasileiros mortos em 2020 levou o grupo à conclusão de que as desigualdades raciais e de gênero contribuem para aumentar o risco de morte mesmo em grupos de pessoas com atividades profissionais que as colocam no topo da pirâmide social.
Os pesquisadores examinaram dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, sobre 67,5 mil pessoas que morreram de Covid-19 no ano passado, amostra equivalente a um terço de todas as mortes causadas pelo coronavírus notificadas no período.
No total, a pesquisa considerou indivíduos entre 18 e 65 anos de idade e com ocupação profissional registrada no sistema do Ministério da Saúde. Os pesquisadores usaram técnicas estatísticas para evitar que comorbidades e outras características pessoais prejudicassem as comparações.
Em números absolutos, houve mais mortes por Covid em grupos ocupacionais que são grandes empregadores, como comércio e serviços (6.420), agricultura (3.384) e transportes (3.367), mas o estudo mostra que alguns setores foram muito mais afetados em termos relativos.
As mortes por Covid representaram 24% de todas as mortes de profissionais de saúde registradas. Na segurança, incluindo praças das Forças Armadas, policiais militares e bombeiros, foram 25%. Entre líderes religiosos, 44% das mortes do ano passado foram causadas pelo vírus.
Para homens negros, os riscos são maiores do que os enfrentados pelos brancos em todas as atividades, com exceção da agricultura, de acordo com o estudo. O trabalho aponta mortalidade maior até mesmo entre advogados, com risco 43% maior, e engenheiros e arquitetos, com 44%.
Uma das hipóteses dos autores do estudo é que a inserção mais precária de muitos negros no mercado de trabalho, em empresas de menor porte ou sem vínculo empregatício formal, os tornou mais vulneráveis na pandemia, aumentando os riscos criados pela exposição ao coronavírus.
De acordo com o estudo, os riscos de morte por Covid também são significativamente maiores para mulheres negras, especialmente na base da pirâmide. Para as que trabalham em serviços domésticos, são 112% maiores do que os enfrentados por brancos, calculam os pesquisadores.
No caso das mulheres brancas, o estudo mostra que o risco de morrer de Covid é menor que o dos homens brancos para aquelas que pertencem a grupos ocupacionais de nível superior e maior para atividades que exigem menos instrução. Em geral, o risco é menor que o das mulheres negras.
Nos serviços domésticos, o risco de morte para mulheres brancas é 73% maior do que o dos homens brancos, dizem os pesquisadores. A situação se inverte no topo da escala social. O risco é 39% menor para advogadas e 22% menor para mulheres em posições gerenciais e cargos de direção.
Para os autores do estudo, a vantagem das mulheres sobre os homens no topo pode ser explicada pelo hábito que elas têm de manter em dia cuidados preventivos com a saúde, ao contrário dos homens, que tendem a postergar visitas aos médicos, de acordo com especialistas em saúde pública.
Nos grupos ocupacionais da base da pirâmide, a perda de acesso a serviços de saúde e a sobrecarga de tarefas com cuidados de crianças e idosos durante a pandemia pode ter tornado muitas mulheres mais vulneráveis diante dos riscos criados pela Covid, dizem os pesquisadores do grupo.
O grupo não encontrou diferenças relevantes para ocupações de nível superior, porque há poucas mulheres negras nessas atividades. A exceção foram as enfermeiras, para quem o risco de morrer de Covid é 23% menor do que o dos homens brancos, segundo as estimativas dos especialistas.
Fonte: Folha de S. Paulo
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